Das batalhas judiciais que os irmãos Joesley e Wesley Batista não poderão se livrar com delações, 34 mil tratam de ações trabalhistas que envolvem o grupo JBS e correspondem a um total de R$ 2,6 bilhões. O número de processos cresceu no ano passado, assim como o de acidentes de trabalho, embora a ocorrência de lesões mais graves tenha diminuído no Brasil.

O total de acidentes de trabalho da JBS cresceu cerca de 11% no país, mostram dados dos últimos relatórios de sustentabilidade da companhia. A empresa atribui o aumento ao maior número de funcionários, embora o total de colaboradores tenha crescido menos de 1%.

Entre os 2,68 mil registros de acidentes, 791 ocorreram com afastamentos e houve seis mortes. Os dados incluem doenças, acidentes nas operações e no trajeto entre casa e trabalho.

Foto: MPT/SC

Temperaturas baixas e movimentos repetitivos tornam frigoríficos insalubres para trabalho

 

A diversificação das atividades dos 127,7 mil colaboradores da JBS — abate, produção de couros, cosméticos, embalagens, margarina entre outros — dificulta a comparação entre taxas da empresa e da indústria brasileira. A incidência de acidentes na companhia está em linha com as ocorrências do segmento de fabricação de carnes, mas abaixo da média do setor de abate de animais e, por outro lado, acima da indústria de couros.

A concorrente BRF, por sua vez, informou que reduziu o número de acidentes no Brasil no ano passado. No exterior, porém, as taxas subiram, de acordo com o relatório de sustentabilidade.

Os problemas do setor frigorífico vão de jornadas abusivas em ambientes gelados a vazamentos de amônia, segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT). Em toda a indústria de carnes, faltam sistemas de alarme, planos de emergência e médicos em tempo integral, relatam procuradores em diversas ações que em já vencidas na Justiça.

“O trabalho em frigorífico já é adverso devido ao ambiente frio e à maior ocorrência de movimentos repetitivos em cortes de carne. Temos verificado jornadas de 10 horas ou mais”, afirma o procurador Bruno Choairy, de Mato Grosso. Ele destaca que em ambientes insalubres não podem ser realizadas horas extras.

Um dos frigoríficos da JBS foi condenado em meados de maio pela Justiça do Trabalho a pagar R$ 12 milhões como resultado de ação que apontava tempo de trabalho excessivo na unidade de Itaiópolis, em Santa Catarina. O problema é relatado como causa de outras ações passíveis de perda segundo relatórios da companhia.

O juiz do Trabalho José Eduardo Alcântara condenou o frigorífico Macedo Agroindustrial, do grupo, a pagar a indenização por dano moral coletivo e a ajustar a jornada de trabalho à legislação.

Procurada sobre o assunto, a dona das marcas Friboi e Seara informou que não comenta processos em andamento. O Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina informou que a empresa não recorreu da decisão judicial até a última sexta-feira, mas ressaltou que ainda está dentro do prazo para questionar a decisão em segunda instância.

Esta reportagem também foi publicada pelo jornal Folha de São Paulo.

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