A Coordenação de Vigilância Ambiental da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná, por meio do Núcleo de Comunicação Social, apontou que até o momento o estado monitorou 57 municípios, contemplando as 22 Regionais de Saúde do Estado. Esse número representa apenas 14,2% do estado, que tem 399 municípios.

A Secretaria relatou ainda que no ano passado o ritmo de monitoramento foi alterado, e por isso os dados ainda estão sendo consolidados.

“No ano de 2019, foram realizadas duas rodadas de coleta e análise de resíduos de agrotóxicos na água para consumo humano em datas distintas, uma em agosto e outra em dezembro, totalizando 282 amostras analisadas. Nenhuma análise detectou resíduos de agrotóxicos em desconformidade com o padrão de potabilidade. No entanto, no ano de 2020 não foi possível realizar o monitoramento de vigilância no mesmo ritmo e os dados estão sendo consolidados.”

O órgão responsável pela saúde no Paraná informou que, por meio do Plano Estadual de Vigilância e Atenção à Saúde das Populações Expostas aos Agrotóxicos e do Programa Vigiagua, realizou em 2018 e 2019 a coleta de 357 amostras de água para consumo humano para análise de vigilância de resíduos de agrotóxicos em municípios selecionados a partir de critérios técnicos.

A Secretaria de Saúde comunicou, inclusive, que além dos 27 parâmetros obrigatórios pela Portaria 05/2017 do Ministério da Saúde, o estado analisa mais 199 ingredientes ativos em suas amostras de água.

O laboratório responsável pelas análises é o Agrosafety Monitoramento Agrícola Ltda, localizado no município de Santa Bárbara d´Oeste, SP, contratado por meio de licitação pela Secretaria.

O Paraná esclarece também que as interrupções relatadas por outros estados nos laboratórios federais não atingiram o estado.

“A pandemia não atrapalhou diretamente as análises laboratoriais, em função da vigência do contrato com o laboratório supracitado. No entanto, o cenário de pandemia chegou a prejudicar os processos  de coleta e envio de amostras pelo fator exposição ao risco de contaminação dos técnicos, por isso a fase de consolidação.”

Paraná preocupa pesquisadores

O estudo “Panorama da Contaminação Ambiental por Agrotóxicos e Nitrato de origem Agrícola no Brasil Cenário 1992/2011”, publicado em 2014, com coautoria de Robson Barizon e Marco Gomes, apontou o Paraná como um dos estados que despertava atenção sobre o seu cenário de possível contaminação das águas por agrotóxicos.

“Os estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná são os que mais apresentam casos de ocorrência de organoclorados, em função da predominância da cultura do café nestas regiões no período em que o uso dos organoclorados ainda era permitido (CORBI et al., 2006; PERES; MOREIRA, 2007; FLORES, 2000). No entanto, alguns estudos indicam o uso indevido de tais produtos atualmente, principalmente nas áreas cultivadas com cana-de-açúcar.”

Segundo a pesquisa, os cultivos de café e algodão podem ser fonte dos pesticidas encontrados no estado.

O Doutor em Agronomia e Pesquisador de Dinâmica Ambiental de Pesticidas na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Robson Barizon diz que o Paraná continua sendo afetado.

“Não retiraria nenhum estado do último estudo na atualização que pretendemos fazer. O panorama permanece o mesmo, inclusive acrescentaria mais estados, como os da Matopiba, região agrícola formada pelo Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia”.

Estado liderava intoxicações

O estudo “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia” da Doutora em Geografia Larissa Mies Bombardi, publicado em 2017, aponta que o estado do Paraná registrou 3723 pessoas intoxicadas por agrotóxicos de uso agrícola, entre 2007 e 2014.

Liderando os índices brasileiros, segundo o estudo, o estado representava 67% das contaminações na região sul. Na pesquisa, o Paraná ficou na frente de outros grandes produtores agrícolas, como Minas Gerais (2186), São Paulo (2055), Pernambuco (1545), Santa Catarina (1323), Ceará (1086) e Espírito Santo (1066).