A Baía de Guanabara foi alvo de um mapeamento que identificou 69 negócios que promovem soluções de impacto socioambiental positivo em 17 municípios da região metropolitana do Rio. O estudo tem como objetivo apoiar os empreendedores, que, na ampla maioria dos casos, acabam desistindo por falta de apoio financeiro.
As empresas levantadas pelo 1º Mapa de Negócios Sustentáveis da Baía de Guanabara são consideradas agentes de impacto para a conservação da biodiversidade, segurança hídrica e resiliência costeiro-marinha da região, mas apesar de apresentarem grande potencial, ainda precisam de recursos para decolar.
“O mapeamento indicou que a maioria dos negócios que gera um impacto socioambiental positivo nessa região são relativamente recentes e pequenos, e estão naquele clássico “vale da morte”, período inicial pelo qual os empreendedores passam, no qual ainda não está havendo lucro para se manter em pé, precisando então de apoio para vencer essa zona de arrebentação”, explica o gerente de economia da biodiversidade da Fundação Grupo Boticário, Guilherme Karam.
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Devido a esta necessidade, foi desenvolvido um programa de aceleração que vai rodar no segundo semestre deste ano, com execução técnica do SEBRAE. “Precisamos agora ativar e conectar esse ecossistema de negócios de impacto”, acrescenta Karam.
O estudo, de iniciativa da Fundação Grupo Boticário, em parceria com o Instituto Estadual do Ambiente (INEA), Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Instituto Humanize e Sebrae Rio, apontou que 76,1% das empresas retratadas estão entre as fases de ideação e organização, e metade delas sequer têm um modelo de negócio desenhado. A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é autora do mapa.
“Quando a gente fala de empreendedor que está buscando gerar impacto socioambiental produtivo, poucos deles realmente estão super avançados, faturando bastante. Essa é uma realidade não só da Baía de Guanabara, mas de todo o Brasil. Então é bem importante destacar que essa natureza de negócio precisa de muito apoio, e quem sabe daqui alguns anos poderemos indicar que a maioria dos negócios já estão sendo financeiramente sustentáveis, já passaram do “vale da morte”. Porém para isso acontecer tem que existir programas de apoio e atração de investidores, e tudo isso leva tempo”, completa Karam.
Dentre os empreendimentos mapeados, três deles foram escolhidos pelos organizadores e tiveram ênfase na pesquisa. Além de obterem mais visibilidade para suas ações, os empresários poderão interagir com outros atores estratégicos da região e receber capacitação especializada. Um dos destaques é a Madre Frutos, iniciativa do Sinal do Vale, que além de contribuir para o controle da jaca, espécie não nativa da Mata Atlântica, pretende desenvolver produtos orgânicos e regionais que regenerem e conservem o solo e a mata em que são cultivados.
A plataforma digital eTrilhas, que conecta os praticantes de trilhas ecológicas, as unidades de conservação e os guias turísticos, a fim de atrair novos visitantes para a região, foi o destaque na área do turismo. Já no setor de saneamento, a evidência ficou com o Action Tratamento de Resíduos, negócio que surgiu com o objetivo de realizar a coleta e o tratamento dos resíduos poluentes da água, além de fazer o reuso, destinando a água tratada para a agricultura orgânica de baixo impacto no cultivo de frutas.
Plásticos na mira
Uma das lacunas existentes quando se pensa na preservação da Baía de Guanabara é o cuidado com o resíduo plástico. Remadores costumam relatar que pelo menos uma vez por semana recolhem uma tartaruga morta na baía por ingestão de plástico.
“Existe um negócio que se chama Projeto Mar sem Lixo, executado pelo pessoal da federal do Rio de Janeiro, que está com uma iniciativa bem interessante de transformar o plástico para que ele possa ser usado na cadeia de valor por algumas indústrias da região. Inclusive esse projeto saiu de uma iniciativa que conduzimos em 2019. Mas embora essa discussão deva ser ampliada, a gente não pode só ficar só na remediação. Precisamos ir na fonte e tentar entender porque está entrando tanto resíduo não só na Baía de Guanabara, mas em diversas baías brasileiras. Se a gente focar em avançar em soluções inovadoras para retirada do plástico, mas esse plástico continuar voltando, é uma batalha sem fim, né?”, argumenta Guilherme Karam, gerente do instituto.
Esperança de dias melhores
A pandemia da COVID-19 ajudou a acentuar as dificuldades do empreendedorismo socioambiental, que, historicamente, já sofre com menor investimento. Aqueles que trabalham, por exemplo, com turismo, dependendo da visitação de áreas naturais, sentiram maior dificuldade.
Mas o gestor da Fundação Grupo Boticário deixou um recado positivo para os empreendedores que têm uma atuação importante no ecossistema de impacto socioambiental e estão enfrentando dificuldades de captação de recursos.
“Acredito que agora é o momento da gente ser um pouco otimista e se preparar para uma retomada. Os empreendedores dessa região precisam saber que eles vão poder contar com mais instituições de forma coordenada dando o apoio que eles tanto precisam, principalmente, no momento pós-pandemia. A gente tem conversado com diversas instituições que já trabalham na Baía de Guanabara há bastante tempo, procurando estruturar um movimento conjunto e comum para apoiar o empreendedorismo de impacto socioambiental produtivo no médio prazo nesta região. Esse não é um esforço pontual, ele está entrando para ser consumido e ampliado gradativamente.”