Pelo menos 47 startups em operação no Brasil dispensaram funcionários nos últimos quatro meses, com o início de uma onda de demissões que começou a assombrar estas empresas.

É o que mostra a plataforma colaborativa Layoffs Brasil, que registra o total de funcionários desligados de startups no Brasil, bem como seus respectivos cargos e os nomes das empresas.

Levantamento da Agência Nossa a partir de dados da plataforma registrados entre o final de março e a primeira quinzena de julho indica que cerca de 3,8 mil pessoas perderam seus postos de trabalho em startups. São cargos que exigem nível elevado de qualificação como product owner (que faz a ponte entre o projeto e os clientes) e UX Designer (que cuida do design com foco no cliente), entre profissionais como recrutadores, pesquisadores, publicitários.  

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Diante de juros altos e perspectiva de recessão global, os investimentos elevados que irrigam as startups vêm sendo reduzidos. A cautela com o cenário econômico tem levado investidores a pisar no freio, destinando recursos a aplicações mais conservadoras, como a renda fixa.

O levantamento mostra que a maioria das startups que têm demitido são fintechs, empresas que prometem inovação no mercado financeiro. Em seguida, são as empresas de e-commerce, de vendas virtuais, que mais dispensam empregados.

Entre as que seguem dispensando também estão editoras virtuais e startups de educação, que prestam serviços importantes para a população, como a plataforma Descomplica, que ajuda uma massa de estudantes a se preparar para o Enem.

Outro fator que tem provocado demissão nessas empresas é a pressão por retorno financeiro, já que se financiam no mercado com promessas de retorno em prazos mais curtos do que costumam prometer as empresas tradicionais.

Com a economia ainda patinando após a pandemia, em meio a um consumo ainda reticente, muitas startups não têm conseguido alcançar resultados tão promissores quanto apresentaram em seus planos de negócios. Algumas empresas demitiram centenas de funcionários, de uma só vez.

Integram a lista das startups que realizaram demissões nos últimos meses empresas como Quinto Andar, Loft, Empiricus, VETX, iFood, Ame Digital, Boleto Flex e Creditas. Veja a lista completa das startups direto na plataforma.

Se existe do lado do investidor a necessidade de que a empresa cresça, por outro lado, o fato de startups irem a mercado buscar um maior volume de dinheiro mais rapidamente também resulta em compromisso.

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Quando startups vão para rodadas de captação, elas estão apostando em um crescimento acelerado. Elas não estão se dispondo a crescer devagar. É uma aposta de ambos os lados. E, em geral, é o empreendedor que se prepara para conseguir esse dinheiro, porque ele quer crescer mais rápido do que está. A indústria de venture capital é um tipo de indústria que assume um risco mais alto e quer um retorno mais alto também – e esse retorno mais alto acaba sendo associado ao tempo”, afirma Felipe Novaes, sócio e cofundador da The Bakery, empresa de inovação corporativa.

Taynah Carvalho, head de Pessoas e Cultura do Zro Bank, afirma que é a incompatibilidade de cargos e salários que inflacionou o setor de tecnologia. “Existem casos de profissionais que perceberam, de uma dura maneira, que os padrões de vida que assumiram não seriam mais sustentáveis após a recolocação em um mercado que está muito mais criterioso nesse aspecto. É um impacto social muito forte e, portanto, obrigação do mercado manter os pés no chão”, comenta.