Uma barreira experimental para a coleta de lixo flutuante na Prainha da Ilha do Fundão, localizada na área costeira da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, foi instalada neste mês pelo Projeto Orla Sem Lixo (OSL). A iniciativa tem por objetivo encontrar uma alternativa sustentável para a questão do resíduo flutuante em áreas costeiras e oceânicas adjacentes, em uma dinâmica de troca de conhecimento entre a comunidade local pesqueira e pesquisadores.
Após a colocação do bloqueio de 200 metros de extensão – formado por flutuador (feito com sobras de isopor de pranchas de surf e ráfia) e saia (tela de geotêxtil) –, construído com materiais doados pela empresa Huesker, voluntários da equipe responsável pelo projeto e seus parceiros realizaram um mutirão de limpeza na área monitorada.
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Segundo Susana Vinzon, coordenadora do projeto Orla Sem Lixo e professora da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apesar de breve, a limpeza foi um marco simbólico da recuperação desse trecho da praia.
O Orla Sem Lixo propõe o desenvolvimento de uma solução de baixo custo para a intercepção e o gerenciamento contínuo de lixo flutuante na Baía de Guanabara. O projeto é amparado nos conceitos de Soluções baseadas na natureza, economia circular, envolvimento comunitário, geração de emprego e renda, além da transformação do lixo para retorno à cadeia produtiva.
“Com essa primeira ação para a proteção de um trecho de orla, teremos a oportunidade de testar diversos conceitos que estão sendo desenvolvidos no projeto, começando pelo impacto da própria barreira no meio aquático. Nossa equipe atua para entender como essa barreira, sujeita à ação das marés e dos ventos, entre outras, pode trabalhar em conjunto com as correntes para fazer a melhor gestão do lixo flutuante”.
Desenvolvimento de indicadores
A iniciativa pretende ainda desenvolver e aplicar indicadores objetivos sobre o volume e massa de lixo flutuante coletado e os benefícios alcançados com a sua retirada em termos ambientais, sociais e econômicos. “Temos como objetivo de curto prazo a proteção e a restauração de regiões e espaços, como a área piloto na Ilha do Fundão, onde estamos trabalhando. A longo prazo, a ideia é chegar a um modelo permanente de geração de trabalho e renda direcionada à comunidade da pesca”, diz a coordenadora.
Com a participação de cerca de 90 pesquisadores, professores e alunos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e parcerias com o Instituto Estadual do Ambiente (INEA), a Prefeitura Universitária da UFRJ e empresas, o OSL prevê ainda a construção de uma base de apoio para os pescadores da Prainha e um Centro de Recebimento, Triagem e Orientação do lixo flutuante para 2026.
“Para o projeto ficar completo, precisamos garantir a infraestrutura necessária para as comunidades de pesca com as quais trabalhamos. Estamos em busca de patrocinadores para isso”, revela Susana. “O mesmo vale para o desembarque do lixo, que deve ocorrer em uma área próxima, que chamamos Polo de Meio Ambiente e Gestão de Resíduos Sólidos (POMARs), onde prevemos a construção de uma base (Centro de Recebimento, Triagem e Orientação do lixo flutuante). Isso permitirá trazer esse lixo de maneira adequada para o continente, permitindo triar e reciclar o que for possível, em busca do retorno financeiro”, conclui.
Projeto de destaque
O Orla Sem Lixo foi um dos destaques do Camp Oceano, realizado em 2021, no formato da Teia de soluções, uma iniciativa da Fundação Grupo Boticário que estimulou a cocriação de projetos voltados para a sustentabilidade do oceano em todo o Brasil. A partir de capacitações, mentorias e suporte técnico, a iniciativa foi escolhida para receber apoio financeiro por apresentar solução inovadora para reduzir a poluição e incidentes ambientais no mar.
“A ideia do projeto surgiu em 2019 em um contexto de colaboração e inovação, e vem sendo aperfeiçoado nos últimos anos. Tem potencial de ser replicável e escalável não só para a Baía de Guanabara, mas para todo o Brasil, gerando uma estratégia que une conservação ambiental, de renda, pesquisa científica, além de envolvimento comunitário e mercadológico. Objetivos que devem ser alcançados por meio da economia circular, apoiado também por empresas que cumpram suas metas relacionadas à redução do uso do plástico na cadeia de valor, fortalecendo os padrões de sustentabilidade”, aponta Thiago Valente, gerente de Projetos da Fundação Grupo Boticário e coordenador do movimento Viva Água – Baía de Guanabara.