O número de pessoas em situação de rua disparou 50% no Brasil em 2022, logo após a pandemia. De 2021 para 2022, a população sem lar  passou de 158,06 mil para 236,40 mil, segundo o relatório “População em situação de rua”, que acaba de ser divulgado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

O estudo foi realizado após o Superior Tribunal Federal determinar um plano de ação direcionado em políticas para a população em situação de rua.  

Assine nossa newsletter gratuita para receber as reportagens

Durante a pandemia, o crescimento foi da ordem de 63%. O pesquisador Marcelo Neri, chefe do FGV-Social, explica que houve diminuição de recursos no Suas para este grupo justamente quando a necessidade aumentou mais. Além disso, ele lembra da instabilidade de valor no Auxílio Brasil. 

“O financiamento da Moradia precisa de estabilidade”, afirmou à Agência Nossa. 

Fatores como imigração de refugiados e baixa remuneração pelo trabalho de catar lixo também contribuíram para o aumento expressivo da população de rua. Os dados são mais uma triste fotografia do aumento da pobreza no período pós pandemia, juntamente com a volta do Brasil ao mapa da fome.

Bahia com maior crescimento

A Bahia é o estado com a maior alta anual, com explosivos 90%  em comparação ao ano anterior, seguido de Maranhão e outros estados da região Norte e Nordeste. Foram as regiões que viram a população de rua crescer mais após a pandemia. 

O governo da Bahia não retornou aos questionamentos da Agência Nossa sobre razões ao crescimento extremo da população de rua no estado.

Em números totais, o Sudeste foi a região com maior quantidade de pessoas em situação de rua, sendo liderada por São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, com 95,1 mil, 25.9 mil e 21 mil, respectivamente. 

Questionada sobre os números, a Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo (SEDS) ressaltou que “financia e cofinancia programas para os 645 municípios do estado de São Paulo, repassando, anualmente, mais de R$ 200 milhões para serviços socioassistenciais, como os Centro de Referência especializado para População em Situação de Rua (Centros Pop) e serviços de abordagem”.

O catador de materiais recicláveis Remilson da Conceição (45) já foi atendido pelo sistema de atendimento no Centro Pop. Mas não há vaga de abrigo suficiente em Niterói para as pessoas sem moradia, incluindo cerca 823 pessoas em situação de rua apontadas pelo relatório.

Dentre as pessoas em situação de rua cadastradas no país, a maior parte é homem (87%), adultos (55% têm entre 30 e 49 anos) e negras (68%, sendo 51% pardas e 17% pretas). Além de brasileiros, existem muitos imigrantes que também se encontram sem moradia no Brasil. 

Remilson, conhecido como Sorriso, vive nas ruas de Niterói, região metropolitana do Rio (Fotos: Clara Lorenzi)

 

De acordo com o relatório, 4% dos PSR são imigrantes, entre eles 4,1 mil venezuelanos (43%), 2,2 mil angolanos (23%) e 1 mil afegãos(11%). 

Todos os dados do relatório foram obtidos a partir de informações disponíveis em programas sociais como o Cadastro Único (CadÚnico) e o Centro de Referência de Assistência Social (Cras), que atende inúmeras pessoas nessas situações. 

Contudo, os números podem ser maiores, levando em consideração a dificuldade de se registrar e mapear as pessoas nessas condições, como aponta o relatório: dos 236,4 mil PSR, 138,9 mil vivem de um município diferente de onde nasceram.