Após repercutir internacionalmente que o comitê organizador da COP29 seria composto apenas por homens, o governo do Azerbaijão, anfitrião da Conferência do Clima da ONU em 2024, voltou atrás e informou nesta sexta-feira (19) a inclusão de 12 mulheres e de um novo homem no mecanismo.

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Originalmente formado por 28 homens, agora o comitê organizador da COP29 passa a ter 12 mulheres e 29 homens – uma disparidade de gênero ainda de 68%.  Para se ter uma comparação, no comitê da COP28, em Dubai, 63% dos membros eram mulheres.

“Não ter mulheres em espaços importantes de decisões, como uma Conferência do Clima, pode significar que não será uma prioridade global reduzir as desigualdades de gênero no contexto das mudanças climáticas e das crescentes crises humanitárias que ela tem desencadeado. Dados mostram que mulheres e meninas de baixa renda são, em média, 14 vezes mais suscetíveis a serem mortas por desastres climáticos do que homens, e isso não pode ser ignorado em um espaço decisório como uma COP”, analisa a Especialista de Política Internacional do Greenpeace Brasil, Camila Jardim.

Um levantamento do Greenpeace Brasil, realizado no site da UNFCCC (United Nations Framework Convention on Climate Change), põe esse abismo de gênero nos espaços de poder da COP em outra perspectiva: em 28 edições da Conferência, apenas cinco delas foram presididas por mulheres. Ou seja, entre 1995 e 2023, apenas 21% da presidência das COPs foi conduzida por mulheres. Foram elas: Angela Merkel, ex-primeira ministra da Alemanha, presidenta da COP1, em 1995; Maria Julia Alsogaray, ex-ministra de Recursos Naturais da Argentina, presidenta da COP4, em 1998; Patrícia Espinosa, ex-ministra das Relações Exteriores do México, presidenta da COP16, em 2010; Maité Nkoana- Mashabane, presidenta da COP17, em 2011; e Carolina Schmidt, ex-ministra de Meio Ambiente do chile, presidenta da COP25, em 2019.

Movimentos de mulheres marcaram participação nos protestos da COP 28. Foto: Marie Jacquemin (Greenpeace)

“As mulheres tendem a carregar sozinhas os cuidados e trabalho domésticos. Nas regiões rurais, onde a dependência da agricultura de subsistência é elevada, as mulheres costumam ser as principais fornecedoras de alimentos, água e combustível, mas também são as mais afetadas pela desnutrição. A crise climática leva à escassez de recursos, tornando estas tarefas cada vez mais difíceis e limitando o seu movimento de adaptação. Esses são apenas alguns exemplos que se somam à discriminação e à violência de gênero; e o acesso inferior a recursos, serviços, informação, emprego e participação nos processos de tomada de decisão. Uma COP não deveria reproduzir a discriminação de gênero”, conclui Jardim.

Há de se considerar nessa conta a denúncia de pinkwashing ocorrida na presidência da COP15 (Dinamarca, 2009). Aquela edição seria presidida por Connie Hedegaard, então ministra do Clima e Energia da Dinamarca, mas Connie demitiu-se do cargo após uma reportagem do Guardian denunciar que a parlamentar seria apenas um “cargo representativo”, uma vez que o primeiro-ministro dinamarquês Lars Løkke Rasmussen era quem fazia as decisões finais da COP15. Após a renúncia de Connie, Lars virou o presidente da COP 15.

Texto original publicado pelo Greenpeace, com edição da Agência Nossa.