Os recordes de temperatura que o mundo enfrenta desencadearam uma sucessão de outros extremos que só agravam o alerta vermelho da humanidade.

O maior calor médio já documentado foi combinado à menor cobertura glacial registrado na Antártica, contribuindo para outro recorde: o aumento do nível dos oceanos.

Assine a Volver! para receber gratuitamente nossas reportagens

A agência meteorológica da ONU afirmou em seu relatório anual divulgado nesta terça-feira que o mundo atingiu nível mais alto em 174 anos de documentação por uma margem clara, atingindo 1,45 °C acima dos níveis pré-industriais.

O chefe de monitoramento climático da OMM, Omar Baddour, afirmou que há grandes chances de que 2024 registre novos recordes de calor. Um dos principais motivos é o comportamento do clima em anos seguintes ao El Nino: tipicamente mais quente.

Pinguins-imperadores. Foto: Woods Hole Oceanographic Institution⁠

O relatório “O estado do clima em 2023”, da OMM, afirma que nunca antes o mundo viveu uma situação com tantos extremos e recordes. “As sirenes estão tocando em todos os indicadores”, alertou o secretário-geral do ONU, Antonio Guterres, durante a apresentação do relatório.

Ao apresentar o relatório Omar Baddour mostrou surpresa principalmente com o que verificaram no extremo sul da Terra. O continente de gelo apresentou sua menor cobertura histórica, com perda de uma área equivalente ao Egito em relação à medição anterior, de 2022.

“Ainda não temos uma explicação científica para a compreensão do que houve tão repentinamente na Antártica”, afirmou o porta-voz da agência meteorológica da ONU.

A extensão do gelo marinho ártico permaneceu bem abaixo do normal, mas não com a mesma magnitude do ocorrido no pólo sul.

A degelo da Antártica, somado ao aquecimento dos oceanos, que provoca a expansão da água, contribuiu para dobrar a taxa de aumento do nível do mar na última década, em comparação com o período 1993-2002.

O aquecimento dos oceanos se concentrou no Atlântico Norte, com temperaturas médias 3 °C acima da média no final de 2023.

Espécies de peixes fugiram para o norte em busca de temperaturas mais frias. Também há relatos de populações de pinguins dizimadas no continente da Antártica.

No Brasil

O líder em Mudanças Climáticas do WWF-Brasil, Alexandre Prado, afirma que o relatório da OMM confirmando o ano mais quente da história nos coloca em estado de alerta, pois, lembra ele, estamos alcançando o limite estabelecido no Acordo de Paris.

“Infelizmente, os eventos climáticos extremos que vimos no ano passado como o recorde de temperatura em oito estados, muita chuva no Sul do país e muita seca na Região Norte parecem ser o novo normal, já que não há tendência de diminuição de emissões”.

E destaca a necessidade de recursos no combate às mudanças climáticas. “Devemos ter um grande esforço para a COP deste ano colocando uma pressão sobre as nossas metas para 2025, tanto na parte de finanças como nas metas de redução de emissão e adaptação”, afirma  o porta-voz da organização de defesa do meio ambiente.

Ele ressalta, porém, que, com o primeiro ano do atual governo tivemos uma queda expressiva de desmatamento e a boa notícia é que o Brasil apresentou taxa de redução.

Outra boa notícia, segundo ele, é que a energia renovável cresceu bastante mundialmente, um aumento de 50% acima da média, em comparação a 2022. “E o Brasil é um dos países que se destaca na geração de energia renováveis, principalmente, solar e eólica. É um resultado super importante se lembrarmos os acordos da COP 28, onde foi colocado para triplicar a capacidade de energia renovável globalmente”.