A Aliança Global organizada pelo Brasil para combater a fome e a pobreza no âmbito do G20 propõe transferências de renda para 500 milhões de pessoas em situação de extrema pobreza no mundo, entre outras iniciativas que serão tema na Cúpula de chefes de Estado reunidos nesta segunda e terça-feira no Rio.

Os compromissos abrangem 41 governos nacionais, 13 organizações internacionais públicas e instituições financeiras, e 19 grandes instituições filantrópicas, organizações da sociedade civil, ONGs e outras entidades sem fins lucrativos. As metas centrais do documento são:

– Alcançar 500 milhões de pessoas com programas de transferências de renda e sistemas de proteção social em países de baixa e média baixa renda até 2030; 

– Expandir as merendas escolares de alta qualidade para mais 150 milhões de crianças em países com fome e pobreza infantil endêmica; 

– Iniciativas em saúde materna e primeira infância terão como objetivo alcançar outras 200 milhões de mulheres e crianças de 0 a 6 anos; 

– Programas de inclusão socioeconômica visam atingir 100 milhões de pessoas adicionais, com foco nas mulheres; 

– O BID e o Banco Mundial, inclusive por meio da AID, oferecerão bilhões em financiamento para que países implementem programas na cesta de políticas da Aliança Global. 

A iniciativa da Aliança Global ocorre em um cenário de tendências preocupantes. A pobreza extrema está diminuindo muito lentamente para alcançar a meta de 2030. As projeções atuais apontam que 622 milhões de pessoas viverão abaixo do limiar da pobreza extrema de US$ 2,15 por dia em 2030 – o dobro do nível da meta. O mundo também está fora da trajetória para alcançar a meta de “fome zero”. Se as tendências atuais se mantiverem, 582 milhões de pessoas viverão com fome em 2030 

Para Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, a urgência é evidente. Ele citou dados do relatório sobre o estado da segurança alimentar e da nutrição no mundo (SOFI) de 2024, que revelou que 733 milhões de pessoas enfrentaram a fome em 2023, representando uma em cada 11 pessoas globalmente. A África continua como a região mais afetada, com 20,4% da população enfrentando a fome, enquanto a Ásia concentra mais da metade dos casos globais. 

O financiamento multilateral para o desenvolvimento será essencial para ampliar essas iniciativas. Anunciando um financiamento adicional de US$ 25 bilhões para apoiar a implementação de políticas nacionais no conjunto de políticas da Aliança Global, Ilan Goldfajn, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), disse: 

“Com o lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, o Brasil está liderando uma plataforma global para implementar políticas públicas destinadas a erradicar a fome e a pobreza em todo o mundo. O BID tem orgulho de se juntar a essa aliança. Estamos totalmente comprometidos com sua missão e seus objetivos. Juntos, temos o poder de acabar com a pobreza extrema na América Latina até 2030. Com a liderança do Brasil e o apoio dos bancos multilaterais, teremos a estrutura, os recursos e a expertise para transformar nossos compromissos em ações concretas com impacto duradouro.” 

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Akihiko Nishio, vice-presidente do Banco Mundial para financiamento do desenvolvimento e diretor da Associação Internacional de Desenvolvimento (AID), o braço de crédito concessional do Banco Mundial para países de baixa renda, afirmou: “O Banco Mundial está totalmente comprometido em ser parceiro da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza – e apoiará essa ambição por meio do AID 21. O Banco trabalhará com governos e parceiros para acelerar o progresso em direção à erradicação da pobreza e fome zero. Trabalhando através de um AID totalmente reabastecido, o Banco Mundial se dedicará a estender a proteção social para 500 milhões de pessoas até 2030.”

Nosipho Nausca-Jean Jezile, representante da África do Sul junto à FAO, trouxe à tona estatísticas alarmantes: uma em cada nove pessoas no mundo passa fome, e um quarto da população faminta está na África. Ela ressaltou que a presidência brasileira do G20 foi crucial para promover uma resposta global. “A fome é uma questão de direitos humanos. A Aliança Global proposta pelo Brasil é um começo promissor, mas precisamos garantir que todos os continentes estejam engajados,” observou. 

Ibrahima Coulibaly, presidente da Organização Pan-Africana de Agricultores, destacou a importância de apoiar a agricultura familiar e fortalecer políticas públicas nos países em desenvolvimento. “O mundo não carece de recursos financeiros, mas de uma distribuição justa. O Brasil serve de inspiração com sua liderança,” pontuou Coulibaly.  

Adriana Correia, representante de cozinhas solidárias no Rio Grande do Sul, apontou a urgência de reconhecer essas iniciativas como essenciais no combate à fome. “Desde a pandemia, as cozinhas solidárias alimentaram milhares de pessoas, e continuam sendo um pilar contra a fome. Precisamos de apoio permanente para sustentar esse trabalho, e dependemos da ajuda de movimentos sociais. Queremos que as cozinhas solidárias sejam vistas como resistência, que sejam política de Estado, e não somente medidas temporárias”, avalia. 

Com informações do site do G20 Brasil