Pela primeira vez, um felino silvestre foi reintegrado à natureza equipado com um rádio-colar para monitoramento remoto no Estado do Rio de Janeiro. O protagonista dessa ação é um gato-mourisco (Herpailurus yagouaroundi), um dos felinos raros da América do Sul, ameaçado de extinção, que foi resgatado debilitado no município de Seropédica, na Baixada Fluminense.

Na verdade, trata-se de uma gata, uma fêmea de dois anos e meio. Com o auxílio do rádio-colar, pesquisadores poderão acompanhar a movimentação do animal, entender como ele se adapta ao ambiente e avaliar os desafios para a conservação da espécie em áreas da Mata Atlântica.

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O gato-mourisco fêmea foi encontrado por moradores em uma área de transição entre mata e zona rural de Paracambi (RJ), o que levanta preocupações sobre o impacto da fragmentação florestal para a espécie. O animal foi resgatado pelo Corpo de Bombeiros e levado ao Cetas, onde passou por cuidados veterinários e um processo de readaptação, incluindo estímulos para avaliação de seus comportamentos naturais.

A escolha do local de soltura foi baseada em critérios ecológicos, garantindo uma área protegida e com recursos naturais suficientes para a sobrevivência do felino. “A introdução do rádio-colar será essencial para acompanhar sua adaptação, permitindo que os pesquisadores avaliem se ele consegue estabelecer território e encontrar alimento sem dificuldades”, explica o analista ambiental do Ibama Márcio Urselino.

O rádio-colar utilizado no gato-mourisco emite sinais via GPS, possibilitando a coleta de dados sobre seus deslocamentos. Essa tecnologia representa um avanço significativo para a pesquisa, já que esses felinos são conhecidos por sua discrição e hábitos solitários, tornando o estudo de sua ecologia um desafio.

“Esse monitoramento nos permitirá entender melhor o comportamento do gato-mourisco e identificar as ameaças que ele pode enfrentar na natureza, como caça ilegal, atropelamentos e perda de habitat”, explica Yan Rodrigues, biólogo responsável pelo Programa Carnívoros do Rio.

A iniciativa reforça a importância de ações integradas entre órgãos ambientais, centros de reabilitação e pesquisadores para a preservação da fauna silvestre. O acompanhamento do animal seguirá pelos próximos meses, e os especialistas esperam que essa primeira experiência abra caminho para futuras solturas monitoradas, contribuindo para a proteção de outras espécies ameaçadas na região.