Representantes de variadas crenças se reuniram nesta semana para reafirmar o potencial de diferentes tipos de fé no enfrentamento da crise do clima. O evento “Fé no Clima 2025”, de promoção do Centro Brasil no Clima (CBC), o Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC) e o Instituto de Estudos da Religião (ISER), celebrou a fé como força essencial para a construção de um projeto comum em defesa do planeta e pelo bem-estar das novas gerações.
O evento reforçou a necessidade de uma “pausa global” — um momento simbólico para que a humanidade possa desconectar-se das artificialidades e reconectar-se com a terra, com a diversidade de saberes e com a espiritualidade que habita em cada indivíduo. Essa pausa, defenderam, é fundamental para repensar o modelo de desenvolvimento atual, valorizando a biodiversidade, o respeito ao próximo e a sustentabilidade como pilares para o futuro.
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O pastor Caio Fábio reforçou passagens bíblicas que ressaltam o papel do ser humano como guardião da criação, enquanto a estudante de rabinato, Ida Kats, apontou para textos sagrados que alertam sobre a devastação causada pela ambição desenfreada.
Uniram-se às lideranças religiosas, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Marina Silva, a CEO da COP30, Ana Toni, além de ativistas climáticos de projeção internacional, como Kareena Gore. Elas reforçaram que a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima não acontece apenas em novembro, em Belém (PA).
Omar Lakis relembrou ensinamentos milenares do Alcorão, livro sagrado do islamismo, sobre proteção ambiental, como o Cinturão Verde de Medina — uma das primeiras áreas protegidas da história, estabelecida pelo profeta Maomé. Entre os presentes, Mãe Cícera de Oxum trouxe à tona a ancestralidade da relação sagrada com a natureza, reconhecendo a terra como fonte de vida e força espiritual.
Líderes indígenas acrescentaram a perspectiva fundamental do respeito à terra, expressando a conexão íntima e contínua entre povos originários e a biodiversidade.
A Iniciativa Fé no Clima
Neste ano, a iniciativa do ISER (Instituto de Estudos da Religião) completa dez anos de atividades. Criada no contexto de dois eventos importantes ocorridos em 2015 (a promulgação da encíclica Laudato Sí, do Papa Francisco, e a COP21, em Paris), desde então promove diversas ações, como formações, debates entre lideranças religiosas e suas comunidades de fé, participação em redes e eventos da agenda climática. O evento de 2019 foi o último evento público em que Alfredo Sirkis participou antes de sua partida, estando, neste ano, representado por seus filhos na edição rumo à COP30.
O que disseram no evento:
“Já conseguimos muitas coisas, avançamos em muitas coisas, mas agora já estamos vivendo uma emergência climática. Então, temos esse mutirão pela implementação. Implementação do quê? Não vamos inventar a roda. Implementação do que já foi acordado, e que Deus nos dê sabedoria para que a gente possa sair dessa COP com uma nova perspectiva. Eu digo, a COP não é festa, é muito trabalho, e lá em Belém vai ser um altar de pedra não lavrada, pois há diferenças, mas há argamassa (referência a texto bíblico do Velho Testamento)”. – Marina Silva, ministra do MMA
“Para mim, isso aqui já é a COP30, então ela já é um sucesso. A COP30 vai depender de cada um de nós, não são só aquelas duas semanas em Belém, apesar destas duas semanas serem muito importantes. A COP30 é esse processo e a gente tem chamado esse grande mutirão de combate à mudança do clima, mas acho que depois desse evento, eu diria que a COP30 não é só grande mutirão, mas também uma grande comunhão”. – Ana Toni, CEO da COP30

A crise do clima já afeta os oceanos, nosso principal regulador climático
“Esse encontro é muito simbólico porque a gente tá sentando para conversar e tem algo muito acima de nós, a vida, a oportunidade de viver com felicidade, de ter um ambiente bom para os nossos filhos, para as próximas gerações e eu celebro esse momento”. – Carlos Vicente, facilitador nacional da Iniciativa Inter-Religiosa pelas Florestas Tropicais (IRI-Brasil)
“Eu sei que certamente com união e com a essência daquilo que a gente está tentando construir, com diferentes crenças, diferentes fés, a gente vai conseguir avançar, a gente vai vencer o pessimismo e a gente vai ter fé. Fé para seguir em frente, porque a melhor coisa que a gente pode fazer é fazer o nosso melhor. E essa é a nossa sagrada responsabilidade”. – Guilherme Syrkis, do Centro Brasil do Clima (CBC)
“A crise climática é muito mais que questões de informação de ciência e tecnologia. É sobre quem nós somos como seres humanos. Como podemos agir como como espécie para assegurar que não vamos destruir o nosso habitat? Esta não é uma pergunta fácil, mas devemos todos pensar profundamente na maneira como a fé vai nos ajudar, como essas sabedorias podem nos ajudar a enfrentar isso. E o Brasil é o lugar para que isso aconteça, especialmente agora nesse caminho para a COP30”. – Karenna Gore, ativista climática internacional
“A gente tem dois grandes desafios nesse processo de transformação. Um é o desafio da economia, esse desafio que não está andando. E aí, o outro caminho, que é exatamente o impulso de transformação que a espiritualidade, que a cultura, que a imaginação promovem, e que podem superar esse processo. Então, a humanidade precisa fazer uma pausa global para repensar todos esses processos e é exatamente num clima como esse que a gente consegue isso”. – Sérgio Xavier, coordenador Fórum Brasileiro Mudança do Clima (FBMC) e enviado especial da COP30