A construção de dezenas de pequenas centrais hidrelétricas na região do Pantanal, possibilidade prevista no leilão de novas fontes de energia desta sexta-feira tem potencial para um prejuízo de R$ 7 bilhões para a sociedade. A conclusão é da WWWFBrasil a partir de estudo que realizou com base em dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e na metodologia oficial de Análise de Custo-Benefício (ACB) do governo federal,
Além do déficit bilionário, a construção de 59 empreendimentos de energia hidráulica, a maioria Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), na Bacia do Alto Paraguai (BAP), que abrange o Pantanal e áreas de planalto abre caminho para uma série de impactos econômicos e socioambientais, revela a organização.
O estudo comparou o cenário das PCHs a uma alternativa de mix de energias renováveis não-hídricas (50% eólica, 42% solar, 4% biomassa e 4% biogás).
Assine a Volver! para receber gratuitamente nossas reportagens
A maior parte dos prejuízos socioeconômicos das PCHs está relacionada à pesca, atividade central para a economia e a cultura da região. Esses empreendimentos comprometem populações de peixes migratórios e fragmentam seus habitats, impactando diretamente 1,4 milhão de pessoas na BAP — entre elas, 617 mil que consideram a pesca atividade de alta importância.
A partir de estudos conduzidos pela ANA estima-se uma perda anual de R$ 502,6 milhões apenas na pesca difusa. Somados os efeitos em cadeia sobre a economia local e a degradação de serviços ecossistêmicos, o prejuízo total ultrapassa R$ 6,3 bilhões.
“Investir em PCHs no Pantanal não é apenas ambientalmente arriscado, é sobretudo uma decisão economicamente ineficiente. Estamos falando de um modelo que gera prejuízo bilionário, destrói cadeias produtivas consolidadas – como a pesca e turismo – e transfere renda pública para um setor concentrador de benefícios. Em pleno ano da COP30, o Brasil precisa mostrar liderança ao escolher alternativas de geração de energia mais baratas, resilientes e seguras, como a solar e a eólica, que podem entregar a mesma potência firme sem impor esse custo desproporcional à sociedade”, afirma Alexandre Gross, especialista de Conservação e líder de Infraestrutura e Transição Energética do WWF-Brasil.

Pequena central hidrelétrica (PCH) – Foto: Raylton Alves / Banco de Imagens ANA
Os pescadores profissionais e suas famílias também são severamente afetados, com prejuízos diretos e indiretos ao longo de 30 anos que ultrapassam R$ 838 milhões em valor presente, além da ameaça à continuidade de modos de vida tradicionais. A construção das PCHs também afeta, entre outras áreas: a pesca profissional artesanal, com perda anual de R$ 53,7 milhões em renda direta; o turismo de pesca, com prejuízo anual de R$ 54,55 milhões em gastos diretos e R$ 12,27 milhões em cadeia produtiva.
Sem falar, segundo a WWFBrasil, na qualidade nutricional da população, com perda de R$ 29,29 milhões por menor consumo de pescado e o modo de vida tradicional, estimado em R$ 8,29 milhões anuais de perdas.
A instalação de novas PCHs na Bacia do Alto Paraguai, como previsto, levará à perda de biodiversidade, a desestruturação de cadeias produtivas e a ameaça ao modo de vida de milhares de pessoas tornam os projetos inviáveis mesmo sob a ótica financeira.
Silvia Zanatta, especialista de Conservação do WWF-Brasil afirma que as externalidades, em conjunto, tornam o projeto das PCHs economicamente inviável, socialmente injusto e ambientalmente insustentável, especialmente se comparado com alternativas mais eficientes, como o mix de energias renováveis não-hídricas.
“Além de toda perda econômica, as PCHs no Pantanal degradam a qualidade da água, retendo sedimentos essenciais para a fertilização natural do bioma e reduzem a capacidade de sequestro de carbono das áreas alagáveis, são perdas incalculáveis”, afirma Silvia Zanatta, especialista de Conservação do WWF-Brasil afirma que as externalidades, em conjunto, tornam o projeto das PCHs economicamente inviável, socialmente injusto e ambientalmente insustentável, especialmente se comparado com alternativas mais eficientes, como o mix de energias renováveis não-hídricas.