Aprovada em uma comissão do Senado nesta quarta, a proposta que extingue a escala 6X1 levanta um debate que já foi vencido em diversos países ricos e em algumas grandes empresas no Brasil.
A sueca H&M estreou no Brasil neste ano com a escala 5X2, contrariando rivais do setor varejista que costumam adotar jornadas pesadas. O icônico Copacabana Palace também vai contra a maré do setor hoteleiro, outro segmento que abusa da escala que permite uma única folga na semana. A rede de farmácias Pacheco, também evoluiu e se destaca das concorrentes em proporcionar o que é realidade em vários outros segmentos.

Copacabana Palace reduziu jornada entre funcionários. Foto: © Fabio Pozzebom/Agência Brasil
O movimento de jornadas mais saudáveis é evidente entre países europeus. Na França, em 1998 o governo reduziu a jornada de trabalho de 39 horas para 35 horas semanais, com cinco dias na semana.
Na Dinamarca, a média de trabalho é de 32,4 horas por semana; 34,4 horas semanais na Alemanha, enquanto na Suíça: média de trabalho de 34,4. Irlanda: média de trabalho de 34,9 horas semanais e Áustria, 35,5 horas semanais quase a mesma na Itália, com média de trabalho de 35,6 horas.
Os dados são da OCDE e também revelam que Austrália (35,9 horas) e Suécia (35,9 horas) estão entre os países com jornadas menores. O levantamento da OCDE conclui que as políticas para melhorar o equilíbrio entre vida profissional e pessoal beneficiou tanto os trabalhadores quanto empregadores nestes países.
A proposta aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado sobre o fim da escala de trabalho 6×1 aguarda agora análise no plenário. Na prática, constitucionaliza a escala 5×2. Com apoio do governo, a proposta foi apresentada pelo senador Paulo Paim (PT-RS) e tramita no Senado desde 2015.
O texto prevê um período de transição gradual e escalonado que pode durar até cinco anos para que empresas possam se adaptar.
“Quando eu gravei um vídeo atrás do balcão falando da crueldade da 6×1, ninguém levava esse debate a sério. Quando fundamos o @movimento_vat, muita gente disse que era utopia. Hoje, ver o Senado votar essa pauta histórica prova aquilo que sempre acreditamos: quando o povo se levanta, o país se move”, comemorou o fundador do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), Rick Azevedo, vereador no Rio de Janeiro.
O relator da proposta afirma que cerca de 20,9 milhões de brasileiros enfrentam a realidade de sobrejornadas, com destaque para as mulheres, que acumulam até 11 horas diárias entre o trabalho e as tarefas domésticas.

Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado
“O [Instituto Nacional do Seguro Social] INSS, em 2024, registrou 472 mil afastamentos por transtornos mentais, muitos ligados ao excesso de trabalho. A redução da jornada melhora a saúde mental e física. Os trabalhadores estarão muito mais preparados para aumentar, inclusive, a produtividade. Jornadas mais curtas permitem maior equilíbrio entre a vida profissional e pessoal: tempo para a família, para estudo, formação técnica, por exemplo, lazer e cuidados pessoais, afirmou o senador segundo a Agência Brasil.
Se o limite fosse de 40 horas, 22,3 milhões de trabalhadores formais seriam beneficiados. Se fosse de 36, o benefício alcançaria muito mais, mas isso é a longo prazo. De imediato, é de 44 para 40. “Seria uma das maiores transformações sociais e trabalhistas da história do país, ampliando o bem-estar, a qualidade de vida e a dignidade”, completou.