Mesmo que o País consiga crescer 2% ao ano, o brasileiro precisaria de 113 anos para alcançar um padrão de prosperidade ideal, segundo a classificação do Banco Mundial definida por renda diária de US$ 25. Já na Sérvia, um país com renda média parecida com a do Brasil, o tempo para o cidadão ter o mesmo êxito seria de 69 anos, com sua economia crescendo neste mesmo ritmo. 

O documento Poverty, Prosperity, and Planet Report 2024 (Pobreza, Prosperidade e Relatório do Planeta 2024) mostra o Brasil como quinto país mais desigual do mundo, atrás somente da África do Sul, Ewastini, Colômbia e Botsuana, nesta ordem.  

“O Brasil enfrenta um horizonte de tempo próximo a 1,6 vezes maior do que o da Sérvia precisamente porque a desigualdade no Brasil é próxima a 1,6 vezes maior do que na Sérvia”, compara o Banco Mundial na sua primeira avaliação pós-pandemia do progresso global para metas de combate à pobreza, desigualdade e mudanças climáticas.

O documento aponta que, de maneira global, a pobreza recua neste ano, ficando em níveis pré-pandemia. Mas os mais pobres estão mais pobres.

“A má notícia é que esta recuperação está ignorando os lugares que mais precisam dela: a pobreza extrema nas economias mais pobres ainda é 1 ponto percentual maior do que era em 2019”, assinalam os economistas Indermit Gill e Axel Van Trotsenburg.

Fora da meta

A meta global de acabar com a pobreza extrema – definida como US$ 2,15 por pessoa por dia – até 2030 está fora de alcance: pode levar três décadas ou mais para eliminar a pobreza nesse limite, que é relevante principalmente para países de baixa renda. 

Quase 700 milhões de pessoas — 8,5% da população global — vivem hoje com menos de US$ 2,15 por dia, com 7,3% da população projetada para viver em extrema pobreza em 2030. A extrema pobreza continua concentrada em países com crescimento econômico historicamente baixo e fragilidade, muitos dos quais estão na África Subsaariana.

“Após décadas de progresso, o mundo está enfrentando sérios retrocessos na luta contra a pobreza global, resultado de desafios interligados que incluem crescimento econômico lento, pandemia, dívida alta, conflito e fragilidade e choques climáticos”, diz Axel van Trotsenburg, Diretor Executivo Sênior do Banco Mundial. 

“Em meio a essas crises sobrepostas, uma abordagem de negócios como de costume não funcionará mais. Precisamos de um manual de desenvolvimento fundamentalmente novo se quisermos realmente melhorar a vida e os meios de subsistência das pessoas e proteger nosso planeta.”

Padrão de prosperidade

O padrão de prosperidade, uma nova medida do Banco Mundial para desigualdades, é definido pelo Banco Mundial pela renda igual per capita média no ponto em que os países fazem a transição do status de média-alta para renda alta, Com base nisso, a instituição criou um índice que mede o gargalo desta prosperidade, que mostra o quão longe as nações se encontram deste alto padrão.

O mundo piorou no combate a este abismo, influenciado pela pandemia, segundo o estudo. Nos últimos cinco anos, o gargalo de Prosperidade recuou 0,8% ao ano, ritmo menor que os 2,1% ao ano nos cinco anos de 2014 a 2019.

O progresso estagnou desde a pandemia. Em média, as rendas ao redor do mundo teriam que aumentar cinco vezes hoje para atingir o nível de US$ 25 por pessoa por dia, o padrão mínimo de prosperidade para países de alta renda.

Uma pessoa típica na Tanzânia que vive com apenas US$ 2,50 por dia contribui 10 vezes mais para o Gargalo de Prosperidade do que uma pessoa que desfruta de US$ 25 por dia que normalmente reside em países ricos.

Em 2024, o Gargalo de Prosperidade variou de 1,7 na Europa e Ásia Central a 12,2 na África Subsaariana, expondo o abismo social do planeta.

“Não há nada inevitável sobre desigualdade. As políticas podem afetar fontes estruturais de desigualdade”, diz o documento, apontando três estágios para o combate às diferenças sociais gritantes.

O primeiro alvo é na aquisição de capital humano e outros antes que os indivíduos ingressem no mercado de trabalho, com políticas destinadas a reduzir as diferenças no nível educacional. Em seguida, políticas devem corrigir distorções do mercado de trabalho, corrigindo distorções que incluem práticas anticompetitivas ou discriminatórias, ou políticas e regulamentações que fornecem tratamento preferencial ou restringem o acesso ao mercado para alguns, enquanto limitam o acesso para outros, restringindo assim seu potencial produtivo e limitando as oportunidades de ganho.  Terceiro, políticas fiscais justas podem ser alavancadas para melhorar o impacto redistributivo de impostos e transferências.