Apesar da participação feminina no mundo financeiro ter crescido nos últimos tempos, o total de homens trabalhando como profissionais de investimentos ainda é muito maior que o total de mulheres. E as empresas do setor de investimentos, atentas a esse desequilíbrio e ao debate sobre desigualdade de gênero, passam por transformações na cultura organizacional e se movimentam para um cenário mais diverso e inclusivo para todos.
Aumento na contratação de mulheres, promoção da igualdade, equidade e desenvolvimento interno, capacitação das profissionais e projeto audiovisual para dar oportunidade do acesso do público feminino ao universo dos investimentos são alguns dos exemplos de ações voltadas para a inclusão de mulheres no setor dominado por homens.
“Na Renova Invest, temos uma escuta bem ativa para quem já está e damos empoderamento para quem vem chegando. Temos mulheres assumindo nossas unidades que abrimos agora, temos mulheres na linha de frente em ações que anteriormente só poderiam ser designadas a homens. Além disso, a gente está buscando sempre a capacitação das mulheres para que possam alcançar níveis e cargos diferentes do que quando elas entraram”, diz a sócia e assessora de investimentos na Renova Invest, Nayara Boer.
Na Renova Invest, empresa que faz assessoria de investimentos, dos 56 profissionais, 28 são mulheres. Isso corresponde a 50% da equipe. Segundo Boer, o aumento na equipe feminina começou quando o sócio-fundador Bruno Ismar se deparou com a importância do movimento das mulheres dentro do mercado financeiro.
As mulheres têm se destacado cada vez mais como profissionais de investimentos. De acordo com a Nova Futura Investimentos, um estudo do banco Goldman Sachs apontou que os fundos de ações geridos por mulheres tiveram desempenho melhor durante o ano de 2020 até o mês de agosto. Então, mesmo em um ano conturbado para o mercado financeiro devido à COVID-19, os fundos cujas equipes tinham participação feminina desempenharam de forma melhor.
Para contribuir com a inserção de mulheres no mundo das aplicações financeiras, a One Investimentos lançou o Papo de Investidoras, uma série que facilita o acesso ao mercado financeiro e de capitais por meio de conteúdo totalmente gratuito, disponibilizado no Spotify e no Youtube. O projeto reúne expertises em investimentos e educação financeira focada em iniciantes, com interesse em aprender mais sobre o assunto.
[caption id="attachment_4045" align="aligncenter" width="768"] Amanda Notini, assessora da One Investimentos. Foto: Divulgação[/caption]
A assessora de investimentos na One, Amanda Notini, expõe que o intuito da série é mostrar o básico que nem todo mundo conhece, falando todos os detalhes e clareando todas as dúvidas que uma mulher iniciante possa precisar saber quando ela vai começar a investir.
“Eu junto com as demais sócias, que hoje somos 22 mulheres, decidimos montar esse projeto para levar educação financeira para as mulheres com uma linguagem mais fácil, diferente da linguagem técnica do mercado. Queremos desmistificar o universo dos investimentos, além de poder também fazer eventos, e também criar um relacionamento mais próximo para atrair novos talentos aqui pro escritório e novas clientes mulheres” revela Amanda Notini.
Segundo dados divulgados pela B3, o total de mulheres investidoras em 2021 ultrapassou a marca de 1 milhão, sendo 27,73% do total. Nos últimos quatro anos, a parcela feminina na bolsa de valores só aumentou. Enquanto o número de homens aumentou cerca de 4,5 vezes, o número de mulheres aumentou 6,2 vezes.
Participação feminina em peso
Já o Raio X do Investidor Brasileiro de 2021, realizado anualmente pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), em parceria com o Datafolha, apontou que 46,64% dos brasileiros que investem em produtos financeiros são mulheres.
No Brasil, conforme o levantamento da Anbima de 2020, as mulheres representavam 6% dos profissionais com Certificação de Gestores de Carteiras Anbima (CGA), voltada para quem deseja atuar na gestão de fundos e carteiras de investimentos. Para a assessora de investimentos na ONE, é provável que esse número ainda seja muito baixo por conta do interesse das mulheres no mercado ter começado em um passado não tão distante.
“Acredito que o que pode ser feito são mais ações tanto dentro dos escritórios de assessorias, quanto dentro das instituições financeiras. Não uma ação específica para contratar mais mulheres, mas ações que possam mostrar mais do dia a dia, para que as mulheres possam ver e ter vontade de fazer parte. O que precisamos fazer é dar uma oportunidade das mulheres terem seu interesse despertado”, explica Amanda.
Diversidade na Anbima
Analisando internamente, cerca de 50% das cadeiras do Comitê Executivo da Anbima são ocupadas por mulheres e a proporção delas em cargos de gestão (superintendentes, gerentes e coordenadores) é de 45,6%, percentual superior aos 42% que representam a presença feminina no quadro total.
Esses dados ajudam a confirmar a visão do estudo da Frost & Sullivan, que sinaliza que em 2030, mulheres mudarão o panorama da força de trabalho com uma taxa de participação média de mais de 40%, eventualmente adicionando mais 100 milhões de mulheres trabalhadoras à economia global. Isso reduziria a diferença de gênero nas taxas de participação no trabalho em 25% até 2025.
“Grupos que têm mulheres participando em tarefas ou em pequenos projetos acabam tendo resultados um pouco mais rápidos, porque as mulheres são bem executoras. A Renova tem muitas mulheres que encabeçam projetos e a gente acaba vendo essa execução acontecer velozmente. A mulher tem esse foco de olhar, de cuidar, de resolver aquele projeto como se fosse somente dela, e isso traz um resultado mais rápido”, indica a sócia da Renova Invest, Nayara Boer.