Quem visita os lençóis maranhenses e contempla a paisagem exuberante ao longo de um dos estados mais belos do Brasil não compreende por que mais da metade de sua população vive na pobreza. O Maranhão é o estado com maior percentual de pobres no Brasil e no último ano pesquisado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a fatia cresceu ainda mais: de 52,4% para 54,1%.
No Nordeste a pobreza já atinge com 44,8% da população — mais de 25 milhões de pessoas. Pela linha definida pelo Banco Mundial – e usada pelo IBGE — são considerados pobres aqueles que vivem com até US$ 5,50 por dia, o equivalente a R$ 406 por mês, segundo a cotação do período analisado. Para a condição de extrema pobreza, o teto é US$ 1,90.
A vida da empregada doméstica Rosemeire Souza ilustra bem o que dizem esses indicadores. Ela recebia apenas um quinto do salário mínimo pelo trabalho diário de 8h às 13h. Sem marido, mas com a renda complementada pelo Bolsa-Família, Rosemeire conseguiu manter a alimentação durante a infância dos filhos mais novos, o que não foi possível garantir antes para os demais.
Antes do programa social, ela teve que doar os três primeiros filhos, porque o salário precário no Maranhão não garante alimentação de uma família sem ajuda extra.
A renda média de quem trabalha no Maranhão é a menor do País, seguida do Piauí. No Nordeste, o rendimento médio equivale a apenas 69% do valor alcançado pela média nacional. E a desigualdade, que aumenta a cada ano, fica escancarada neste indicador: o trabalhador maranhense recebe em média menos de um terço do que ganha um empregado em Brasília.
Maior desigualdade na Bahia
Na Bahia, a desigualdade na renda do trabalho entre ricos e pobres é a maior capturada pelo IBGE. Considerando a medida dos 10% mais ricos versus os 40% mais pobres segundo a renda do trabalho, o maior hiato acontece na Bahia.
Os baianos no topo da pirâmide detêm cerca de 18 vezes mais renda que os 40% mais pobres.
No Brasil, os 10% mais ricos possuem 12,4 vezes mais que aqueles que compõem a base da pirâmide social. Do começo dos anos 2000 até 2015 houve redução da desigualdade da renda do trabalho no Brasil, movimento atribuído à política de valorização do salário mínimo.
Já nos anos seguintes, “devido à redução dos aumentos reais de salário mínimo, à persistência da deterioração dos indicadores do mercado de trabalho e ao aumento da proporção de trabalhadores por conta própria e sem carteira de trabalho, os quais recebem remunerações inferiores”, a desigualdade cresceu aceleradamente, mostra o IBGE na Síntese de Indicadores Sociais de 2018.
A Bahia tinha cerca de 6,9 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza em 2017 — 44,8% da população. Ainda que não seja o estado com a maior fatia de população pobre, é o que precisa de mais recursos para contornar o problema porque é o mais populoso em relação aos outros estados com níveis críticos de pobreza.
O número de pobres cresceu na maioria dos estados brasileiros, num total de dois milhões segundo a pesquisa do IBGE, de 2018. No País, quase 55 milhões vivem abaixo da linha de pobreza. Houve aumento em todas as regiões, menos no Norte do País, onde estados como Amazonas, Acre e Rondônia ficaram na contramão da tendência segundo a última fotografia do IBGE.
Imigração impacta indicador de pobreza
A onda de imigração de venezuelanos que provoca forte impacto social em Roraima já aparece nos indicadores oficiais de pobreza. Foi o segundo estado brasileiro onde o percentual de pobres mais cresceu.
Cerca de 30 mil pessoas passaram a viver abaixo da linha de pobreza em Roraima, muitas delas nas ruas de várias cidades, principalmente na capital, Boa Vista, e Pacaraima, porta de entrada de imigrantes da Venezuela. A parcela da população pobre passou de 31,4% para 36,1%, num aumento de 20%.
Pelo menos 1,5 mil pessoas moram nas ruas e praças da cidade, segundo levantamento da Organização Internacional para Imigrações (OIM), braço da ONU para o tema. Das 154 mil pessoas que cruzaram a fronteira por Roraima de 2015 a meados do ano passado, 75,5 mil ficaram no Brasil.
Apesar do fechamento da fronteira neste ano, imigrantes continuam cruzando a fronteira em busca de uma realidade melhor. A Venezuela enfrenta grave crise política e econômica, com restrições no fornecimento de energia e alimentos.
Entre os estados que mais receberam imigrantes venezuelanos, São Paulo também exibe más notícias. Foi onde a pobreza mais cresceu no Brasil, reflexo direto da deterioração da qualidade dos postos de trabalho. O estado que mais emprega também é o que mais sente as sequelas dessas mudanças, avaliam pesquisadores.
“Vale do Silício” ajuda Santa Catarina a reduzir pobreza
Santa Catarina tem reduzido o número de pobres, na contramão da triste realidade brasileira. A gerente de Experiência de Pessoas, Thuany Schutz, está a pleno vapor na contratação de desenvolvedores, programadores, especialistas em marketing, atendimento ao cliente e área comercial. A empresa onde trabalha fornece tecnologia para apoiar estratégias em pontos de venda da Loreal, Unilever, Danone, Motorola, Seara, Samsung, entre outras companhias. Procura gente qualificada para preencher 50 vagas com salários de R$ 2,6 mil a R$ 12 mil.
A Involves é uma das empresas que integram o chamado “Vale do Silício Catarinense”. É possível encontrar ali startups, grandes empresas, gestoras de fundos de investimento, aceleradoras, incubadoras, entre outros atores necessários para a formação de ecossistemas de inovação. Localizado em São Francisco, na Califórnia, o Vale do Silício original é uma região conhecida por abrigar os maiores e mais importantes pólos de tecnologia e inovação do mundo, berço de empresas como Google e Facebook.
A concentração de pólos de inovação fortemente geradores de emprego é um dos motivos que fazem de Santa Catarina modelo em indicadores sociais no Brasil. Além de bons resultados em educação e saúde, o estado possui a menor fatia da população abaixo da linha de pobreza, devido à geração de emprego e renda. Santa Catarina reduziu em quase 10% a pobreza. Cerca de 8,5% da população está abaixo da linha de pobreza.