O governo federal tem apostado na assistência digital para pequenos agricultores, mas a novidade não está funcionando no campo, onde as famílias mal têm acesso à internet.
A substituição da assistência presencial pela digital no âmbito do programa Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) pode afetar a agricultura familiar, justamente a responsável pela maior parte dos alimentos que compõem a cesta básica dos brasileiros, alertam especialistas ouvidos pela Agência Nossa.
O programa sofreu um corte drástico nos últimos anos, com recursos reduzidos de R$ 631 milhões em 2015 para R$ 31 milhões em 2021, segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores (Contag).
“Assistência à distância não é o suficiente. Não vai dar conta de atender as demandas das famílias, das dificuldades da agricultura, principalmente em transição agroecológica, que demanda um outro olhar. É específico, para cada propriedade é desenvolvido um trabalho diferente de acordo com as condições do lugar. Então tem que ser presencial”, afirma o técnico de campo da Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas (REDE), Heder Schuab.
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“Mesmo antes da pandemia já havia um déficit no número de técnicos no programa de assistência técnica no governo Bolsonaro. É muito difícil para os pequenos agricultores, a maioria não têm acesso à internet. Então é preciso ter essa assistência técnica de forma presencial”, afirma a coordenadora regional da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE) no estado do Mato Grosso, Aparecida Moura.
No anúncio do Plano Safra 2021-2022, realizado nesta semana pelo Ministério da Agricultura, os valores anunciados para o principal programa destinado à agricultura familiar cresceram 19%, uma vitória para os pequenos agricultores, que têm sofrido com corte de recursos há anos.
Mas o programa responsável pela assistência técnica ficou estagnado e muito abaixo da demanda.
“A aposta do governo é na Ater digital e no programa de Residência Agrária, que não atendem a realidade da maioria na agricultura familiar”, afirmou o presidente da Contag, Aristides Santos.
“Estamos bem preocupados com a Ater, que é uma política fundamental para a agricultura familiar. Não somos contra a Ater Digital em que o Ministério da Agricultura está trabalhando, mas também precisamos de atendimento presencial, pois o acesso à internet ainda não é uma realidade no campo brasileiro. Estamos há mais de dois anos sem Chamadas Públicas de Ater e o montante destinado é insuficiente para a demanda da agricultura familiar”, reforçou o representante dos trabalhadores rurais.
Pandemia
“Falta assistência técnica de uma forma geral, principalmente para agricultores familiares, para o sistema produtivo menor. Eles têm menos acesso à assistência técnica. Isso já é um problema anterior; agora, temos a pandemia, afirmou o representante da Rede.
A Contag informou que apresentou o problema para a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que teria se comprometido a analisar a questão.
Os trabalhadores rurais ponderam que foram atendidos no que diz respeito Pronaf, maior programa para os pequenos agricultores com recursos maiores neste ano.
Edição de Sabrina Lorenzi