Foram 10 de anos de evolução até levar causas sociais ao mercado financeiro e quebrar o ciclo do dinheiro que até então predominantemente fluía de ricos para ricos. Atencioso e genuinamente empático, o fundador do grupo Gaia, João Paulo Pacífico, contou para a Agência Nossa como foi e tem sido essa trajetória revolucionária.
Mas antes de entrarmos na sua história, uma novidade da empresa: já está na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) um projeto imobiliário sem fins lucrativos para a área social. Mais uma ousadia inovadora, desta vez no ramo de habitação popular. Sem mais detalhes devido ao período de silêncio.
São projetos assim, inusitados e contra a atual lei do mercado de capitais, que estão fazendo da Gaia Impacto uma alternativa a investidores que buscam propósito além do lucro.
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Outras empresas do ramo seguem na mesma direção, como a Fama Investimentos, Bemtevi Investimento Social, Gef Capital Partners, Mov Invest, Oria Capital, Positive Ventures, Vox Capital, Wright Capital, entre outras. Mas hoje aqui a pauta é da Gaia Impacto.
A empresa começou como mais uma securitizadora tradicional, mas já com a ideia de uma cultura diferente, com valores da psicologia positiva, de felicidade e gratidão. Evoluiu para a busca de propósito, para as causas sociais, com a criação da Gaia Impacto, braço do grupo para investimentos que combatem desigualdades e prezam pelo meio ambiente.
“É um desafio muito grande, porque o mercado financeiro funciona de ricos para ricos. Estamos quebrando esse ciclo”, afirma o CEO ativista. Com mais de R$ 20 bi em operações, a Gaia Impacto atua nos mercados de agronegócio, imobiliário e crédito financeiro.
Antes de saber que o arroz que comemos vem das cooperativas de agricultores ligados ao MST, de conhecer de perto um assentamento, Pacífico reconhece que não fazia ideia do trabalho duro desses agricultores, pois o que ouvia era bem diferente da realidade deles. Que o grupo era terrorista, que roubava – imagem completamente diferente da que ele conheceu de perto.
“Vi crianças brincando, pessoas trabalhando, um lugar lindo… ao entrar na indústria de arroz, percebi que eram ensacados produtos de marcas que compramos em SP, e que eu não fazia ideia que eram produzidas por eles”.
Entrou em um silo de arroz e descobriu que as cooperativas do MST são as maiores produtoras de arroz orgânico da América Latina.
Foi a Gaia Impacto que se responsabilizou e tomou a frente a operação histórica que permitiu a cooperativas ligadas ao MST captar R$ 17,5 milhões. Iniciativa nada fácil de executar.
“Vários escritórios de advocacia se recusaram a trabalhar na operação. Eu pedi que eles se dispusessem a ouvir, a entender o que era o MST, mas não quiseram. Não os condeno, mas são reféns do sistema”, contou em desabafo após período de silêncio. Até que conseguiram contratar o Veirano Advogados, renomado escritório brasileiro.
Sem banco de investimento, sem assessoria em investimento nem marketing, eles montaram um grupo de trabalho e mergulharam no mundo das cooperativas e lançaram o produto para a captação.
Boicotes, retaliações e choro após vitória
Enfrentaram resistências e boicotes do setor do agronegócio inclusive, até que a oferta foi suspensa pela CVM. A situação foi revertida depois de algumas semanas e a operação foi retomada, desta vez com algum destaque na imprensa e forte apoio popular.
“As mais lindas histórias chegavam até a gente, como algumas senhoras de mais de 80 anos que queriam investir, um padre, vários grupos se formaram naturalmente para ensinar para as pessoas o que era esse tal de CRA do MST”.
A operação atingiu a marca de 4.794 contas abertas, dos quais as primeiras 1.518 pessoas conseguiram investir. Então mais de 3 mil interessados ficaram de fora – o que dá a certeza de que novas operações como esta virão com igual sucesso.
“Quando tivemos a confirmação de que o último investidor confirmou o seu pedido, nossa equipe não cabia em si… sensação máxima de dever cumprido e chorei. Chorei ao lembrar dos rostos das pessoas que nos receberam com tanto carinho… mas que são diariamente julgadas por uma sociedade que não os conhece”.