Em meio às incertezas das crises política e econômica, agora agravadas com a guerra na Ucrânia, sindicatos que representam doze classes de trabalhadores contaram à Agência Nossa suas expectativas para este ano de eleições. 

A principal delas é a retomada de direitos trabalhistas perdidos desde o governo Temer, quando foi aprovada a reforma na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Os representantes dos trabalhadores também acenam para a recuperação de programas e políticas públicas desmanteladas ao longo dos últimos anos e esperam boicotes à reforma administrativa. Mas admitem que a realização das expectativas não será fácil.

“A gente tem uma dificuldade grande de um governo que vai tentar deixar um legado. Esses caras vão trabalhar até o último dia de 2022 para continuar tentando implementar a agenda deles de reestruturação, de reformas, de tomadas de direitos. Então a gente tem muito receio disso enquanto representante dos empregados, porque deve vir mais tentativas de reduzir direitos que os trabalhadores possuem. A gente assistiu isso durante todo o governo Bolsonaro e isso deve permanecer até o final, afirma o presidente do AFBNDES, Arthur Koblitz.

A seguir os principais trechos das entidades ouvidas pela Agência Nossa.

Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE)

Entre os pleitos para este ano de eleição presidencial, o presidente da CNTE, Heleno Araújo, cita a regulamentação do FUNDEB e a rejeição da reforma administrativa, entre outras medidas propostas pelo governo Bolsonaro.

“De imediato temos que garantir o reajuste do piso de 33,23% que é aplicado para toda a categoria e na carreira de todos os profissionais, alcançando ativos, aposentados e aposentadas”, afirma. 

 Federação Nacional dos Médicos (FENAM)

“Esperamos que seja um ano de recuperação tanto na área da saúde quanto da economia, mas temos a plena noção de que nada virá sem esforço para o trabalhador brasileiro. Nesse sentido, a disposição e o engajamento para reivindicar o respeito aos direitos trabalhistas e a melhoria das condições salariais e de trabalho serão fundamentais”, afirma a FENAM.

A entidade destaca também a superação da situação de emergência sanitária ainda em curso e uma maior valorização profissional como metas deste ano eleitoral. A representação da classe destaca também o fato de que os médicos e demais profissionais de saúde têm sido extremamente exigidos e sobrecarregados neste período de pandemia, ao ponto da exaustão.

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Para a associação, a pandemia da Covid-19 deixou ainda mais evidente o quanto são necessárias melhorias nas condições de trabalho, de financiamento do SUS, de remuneração digna (tanto no sistema público de saúde quanto no suplementar) e um maior respeito ao exercício da atividade profissional e à relação do médico com o paciente.

Sindicato dos Engenheiros de Volta Redonda (SENGE-VR)

O Diretor do SENGE-VR, Darker Pamplona, avalia que desde 2015, com a grande recessão e o desemprego por ela gerado, as perspectivas para os trabalhadores, inclusive os qualificados, são as piores possíveis. Ele lembra que, no ano de 2021, com o agravante da pandemia, jogou milhares à beira, ou na própria miséria.

“Aos que mantiveram seus empregos, restou a fragilidade causada pela Reforma Trabalhista do governo Temer, quando direitos e vantagens, e mesmo a necessária reposição de perdas pela inflação, passaram a se subordinar ao “negociado” em detrimento do legislado”

Quanto à capacidade de reação e autodefesa dos trabalhadores em geral, a própria reforma se encarregou do desmanche da representação sindical e de tornar a Justiça do Trabalho proibitiva.

“Perspectivas para 2022? Enquanto durar o governo Bolsonaro, com os pífios índices de crescimento, juros e inflação nas alturas, nada a acrescentar. Vamos esperar, lutar e torcer por 2023”, conclui.

Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG)

A representação nacional dos trabalhadores rurais vê com preocupação o atual cenário brasileiro. Para a CONTAG, as ações do atual governo federal empurraram o Brasil para sucessivas e permanentes crises (política, social, econômica, ambiental e outras) e comprometeram programas e políticas públicas importantes para o desenvolvimento social.

“O ano de 2022 será bastante difícil. Com (…) corte no Orçamento da União provocando a queda de recursos em todos os programas da agricultura familiar, não há expectativa otimista para a categoria dos agricultores e agricultoras familiares e nem para a classe trabalhadora como um todo”, diz o presidente da CONTAG, Aristides Santos.

Guerra afeta preços do pão e dos combustíveis

A federação também evidencia a existência do que para ela é “uma política deliberada de desmonte que fez com que o país voltasse ao Mapa da Fome”. Os números da Rede Penssan indicam que, atualmente, 55,2% da população brasileira convive com a insegurança alimentar.

“Diante desta dura realidade, nas eleições de 2022 estarão em disputa vários projetos políticos. A sociedade brasileira terá a oportunidade de escolher um caminho que conduza a um 2023 com mais dignidade aos trabalhadores e trabalhadoras e a toda nossa população”, conclui.

Federação Única dos Petroleiros (FUP)

Já a associação que representa os trabalhadores do setor petrolífero destaca a geração de empregos como ponto a se perseguir neste ano de eleição.

“O que os trabalhadores da Petrobras mais gostariam de ver na empresa seria a volta de uma preocupação com o desenvolvimento nacional e atendimento à população brasileira, com geração de empregos no Brasil e combustíveis/gás a preços justos”, declara a diretora da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Cibele Vieira.

Manifestação de profissionais da educação. Classe quer derrubada da reforma administrativa. Foto: divulgação

Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB)

Assim como outros dirigentes de classes trabalhadoras, a associação que representa os membros do Poder Judiciário quer um 2022 de mais respeito e valorização de seus profissionais, passando por uma remuneração mais justa.

“A expectativa da AMB para 2022 é que a magistratura seja efetivamente respeitada e valorizada neste país, que o Congresso Nacional não patrocine iniciativas inconstitucionais que agridam as prerrogativas de magistradas e magistrados e que as perdas inflacionárias dos últimos anos possam ser respostas a todos os servidores públicos – tão importantes neste momento de enfrentamento a crises sanitária e econômica”, afirma a presidente da AMB, Renata Gil.

Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro

A diretora do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro afirma que uma das grandes questões para se levantar neste ano eleitoral é  a revogação da reforma trabalhista, que segundo ela “não gerou um emprego sequer, ao contrário de toda a falácia de quando ela foi vendida”.

Ela lembra também das dificuldades que os jornalistas têm enfrentado no governo Bolsonaro.

“A gente vive hoje num Brasil governado pelo Bolsonaro, que é essa figura negacionista que ataca os direitos dos trabalhadores, que ataca especificamente a classe jornalística. Ele se coloca como um inimigo público número um dos jornalistas e tem sido difícil, né?”, lembra a diretora do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, Carol Barreto. 

Sindicato dos Advogados do Estado do Rio de Janeiro (SAERJ)

A procuradora do Sindicato dos Advogados do Estado do Rio de Janeiro (SAERJ), Silvia dos Santos Correia, tem como perspectiva para 2022 um ano ainda difícil para os trabalhadores. Ela acredita que é necessário achar um equilíbrio para que a força de trabalho possa manter seu emprego e para que o mercado de trabalho possa reagir abrindo novos postos mesmo com todas as dificuldades que ainda existem.

“A economia ainda sente os efeitos dessa pandemia, dos isolamentos, da doença, dos óbitos que aconteceram. Então não vai ser um ano fácil”, relata a representante do SAERJ.

Silvia Correia também ressalta a dificuldade do trabalho remoto que os tribunais estão  enfrentando, por conta da diferença entre a realidade da população, que já tem vivido uma vida quase “normal”, e do jurídico, que ainda tem atuado por uma tela do celular.

“O que nós precisamos e vamos brigar na parte do sindicato é que os tribunais regionais do trabalho possam retomar as suas atividades com toda cautela, que o jurisdicionado possa ser atendido com a brevidade e da forma que ele tem o direito de ser atendido, com audiências presenciais guardadas as cautelas e com os despachos ocorrendo diretamente pelo juiz, sem tantos filtros como acontecem hoje”, completa a procuradora.

Sindicato Metabase Inconfidentes

O líder do Sindicato Metabase Inconfidentes, que representa os trabalhadores da mineração em Minas Gerais, relata que o setor, desde de 2020, vem retomando o número de empregos que havia perdido nos últimos 7 anos. E para a organização, isso acontece devido ao boom das commodities e aos incentivos e decretos do governo Bolsonaro.

Mas, para a liderança, não se pode esquecer que, no início da pandemia, esse foi um dos setores colocados como essenciais, e que não parou um dia sequer, tendo, nas cidades mineradoras, um alto grau de contaminação e mortes por Covid, em relação, às grandes metrópoles (comparado em proporções populacionais). 

“Há uma mudança significativa nos empregos. Aproveitando da Reforma Trabalhista em 2017, a partir de 2020, há um aumento perceptível (de forma empírica) dos contratados terceirizados e contratos temporários, o que fez com que a exploração dos trabalhadores aumentassem. Ou seja, está acontecendo uma geração de empregos, mas empregos mais precários e que pagam muito menos”, conta o dirigente do Sindicato Metabase Inconfidentes.

Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro

A situação que os bancários vêm enfrentando é um pouco parecida, uma vez que envolve a precarização do trabalho. De acordo com o técnico do Dieese na subseção do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Fernando Amorim,  o trabalhador bancário brasileiro ao longo da última década vem sofrendo duplamente os efeitos da reforma trabalhista e de outras reformas estruturantes, o que tem causado uma onda de substituição do bancário convencional por um trabalhador de agência digital com outro tipo de formação, muitas vezes mais jovem e que tem salários bastante inferiores.

Como a pandemia acelerou o processo de retirar o bancário tradicional do posto de mediador principal entre o cliente e o banco, o saldo do emprego bancário, entre admitidos e desligados, foi acentuadamente negativo no ano passado e a tendência para esse ano é que isso se mantenha.

“ A gente verifica já várias agências fechando em todas as regiões do país, nas capitais e no interior. Então para o trabalhador bancário o que se visualiza é um ano de dificuldade, de mais demissões, provavelmente”, confessa Fernando Amorim.

Associação dos Funcionários do BNDES (AFBNDES)

“A gente tem uma dificuldade grande de um governo que vai tentar deixar um legado. Esses caras vão trabalhar até o último dia de 2022 para continuar tentando implementar a agenda deles de reestruturação, de reformas, de tomadas de direitos. Então a gente tem muito receio disso enquanto representante dos empregados, porque deve vir mais tentativas de reduzir direitos que os trabalhadores possuem. A gente assistiu isso durante todo o governo Bolsonaro e isso deve permanecer até o final, afirma o presidente do AFBNDES, Arthur Koblitz.

Ele diz que o banco está sob “um ataque muito grande” desde 2016 e que tem denunciado as calúnias contra a instituições bem como vem defendendo a manutenção do banco na constituição, com a fonte de financiamento do BNDES.

“Eu acho que 2022 vai ser um ano muito difícil. Todas as reivindicações econômicas estão nessa direção. A gente está com uma economia estagnada, com juros subindo, com inflação. Eu acho que vai ser realmente um ano em que os trabalhadores vão sofrer muito economicamente. No BNDES que é uma categoria bem remunerada relativamente de empregados também há sofrimento, porque as pessoas não são isoladas, têm suas famílias, seus cônjuges que passam por dificuldades, sem emprego, trabalhando mais e ganhando menos, então desse ponto de vista a gente acompanha essa dificuldade na parte econômica. Mas acho que não acaba aí o problema. 

Sindicato Nacional dos Aeroviários (SNA)

Já para a diretora do maior representante da categoria dos trabalhadores do transporte aéreo no Brasil, o Sindicato Nacional dos Aeroviários (SNA), o ano de eleição será o momento para conquistar os direitos que têm sido perseguidos ao longo do tempo pela classe e também de garantir o respeito da classe patronal e do governo.

“Nossa expectativa enquanto um sindicato nacional e representante de uma categoria com um papel de destaque no cenário brasileiro é recuperar a autoestima, tão abalada durante esse período de covid e de retrocesso sociais em nosso país”, informa a diretora do SNA, Selma Balbino