As estatísticas oficiais da balança comercial brasileira reforçam o que representantes do comércio exterior vêm alertando: a falta de política industrial e de um projeto de País.

A balança comercial de produtos manufaturados, que geram mais valor agregado e empregos,  registrou déficit gigantesco de US$ 111 bilhões, em 2021, no pior saldo da história, conforme levantamento da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Assine nossa newsletter gratuita para receber notícias da Agência Nossa

O saldo reflete exportações desses produtos no total de US$ 76,7 bilhões — o mesmo patamar desde 2006, ou seja, 15 anos hibernando, sem crescimento.

Já as importações de manufaturados atingiram US$ 188,5 bilhões no ano passado.

“O Brasil não tem política de comércio exterior, não está preparado para o aumento do comércio internacional, não tem estudo, projeto, nada sendo feito no governo para promoção de exportações e busca de mercados alternativos, nada…. O ministério da Economia é completamente inoperante quanto a isso”, afirma o presidente da AEB, José Augusto de Castro.

Guerra deve levar Rússia e Brasil a disputa por mercado chinês

Castro lembra que em 2000, o Brasil exportava 59% de produtos manufaturados, participação que caiu para 27% no ano passado.

Enquanto isso, 85% do total das importações do Brasil, em 2021, foram de manufaturados.

Já as exportações totais do Brasil somaram US$ 280 bilhões e as importações US$ 219 bilhões, gerando superávit de US$ 61 bilhões e corrente de comércio de US$ 500 bilhões, em 2021.

“Exportações, saldo e corrente de comércio foram valores recordes, o que pode dar a impressão de que o país foi muito eficiente, mas não foi. Foram resultados impulsionados por exportações de dez principais commodities, com preços em alta no mercado internacional”.

As exportações de manufaturados brasileiros estacionaram no mesmo patamar de 2006

A falta de política industrial é sentida por vários representantes da indústria, que fazem coro quanto ao fato de o Brasil ter se tornado mero exportador de matérias-primas, retrocedendo aos tempos de colônia. Com a força da bancada ruralista, o Brasil se contenta com essa posição de exportador de commodities e não avança em estratégias para fortalecer também a indústria brasileira no comércio exterior.

O pior problema da desindustrialização é a precarização do trabalho, já que a indústria, tradicionalmente, é o setor dos melhores salários. A participação da indústria do PIB vem desabando, e em menos de três décadas, recuou a um terço. Atualmente, a fatia do setor fabril está na casa de 11%.

De acordo com o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), os avanços do Brasil diante da concorrência chinesa
permanecem limitados, “carecendo nosso país de ampliar suas exportações de manufaturados de maior complexidade”.

O Brasil deveria, segundo o instituto, fomentar a exportação de bens com maior Índice de Complexidade do Produto (ICP), por meio de um bom
planejamento quanto aos acordos de comércio, entre outras medidas. “Terá papel central a execução de adequadas estratégias industriais e de desenvolvimento tecnológico e
inovação que as maiores e mais industrializadas economias do mundo adotam”.

Com reportagem adicional de Sabrina Lorenzi.