Indicado para ser o novo presidente da Petrobras, o economista Adriano Pires defendeu o amortecimento de preços dos combustíveis em recente entrevista à Agência Nossa.

Enquanto atuava como consultor à frente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Pires disse concordar com a criação de um fundo soberano para conter aumentos bruscos dos preços dos derivados de petróleo para o consumidor final.

Dados do Dieese mostram que a gasolina e o óleo diesel, na refinaria, tiveram reajuste de 157%, ante uma inflação de 31,5% desde 2016, quando foi instituída atual política de preços. No gás de cozinha, que afeta diretamente as famílias mais pobres, a alta acumulada foi  de estratosféricos 349,3%.

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Desde quando a Petrobras realizou, em 10 de março, o maior reajuste desde o começo da política de preços  livres, piorou o desgaste entre o presidente Bolsonaro e o presidente da Petrobras, general Joaquim Luna e Silva.

O Planalto anunciou nesta segunda-feira a troca de comando.  Para liderar o Conselho de Administração, foi indicado Rodolfo Landim, nome de carreira da Petrobras, que preside o Flamengo e presidiu a BR Distribuidora nos anos 2000. Os nomes deverão ser aprovados no próximo dia 13, em assembleia geral ordinária da Petrobras.

Defensor de uma cartilha liberal, Pires, no entanto, não se mostra favorável à intervenção política na Petrobras. A amortização dos solavancos do mercado internacional precisaria vir de subsídios do governo ou outros recursos públicos.

Leia a reportagem com declarações do indicado à presidência da Petrobras

Enquanto o preço dos combustíveis voltou a disparar, há cerca de um ano, Adriano Pires concordou com a ideia de se criar um fundo soberano com recursos de royalties do petróleo, sugerida pelo vice-presidente Hamilton Mourão, para evitar variações bruscas do preços dos derivados.

Doutor em Economia Industrial pela Universidade de Paris XIII, atua há mais de três décadas na área de energia. Sua última experiência no governo foi na Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP).

O site da sua consultoria descreve que Pires desenvolve atividades de pesquisa e ensino nas áreas de economia da regulação, economia da infraestrutura, aspectos legais e institucionais da concessão de serviços públicos e tarifas públicas.

Adriano Pires é indicado para a presidência da Petrobras. Foto: Pedro França/Agência Senado

Na ocasião da entrevista com Pires, especialistas também ouvidos pela Agência Nossa apostavam na volta de um mecanismo que funcionasse como um amortecedor, tal como a Cide nos anos 2000, quando o barril do petróleo disparou no mercado internacional.

A Cide-Combustíveis (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) foi criada em 2001 justamente para exercer a função de amortecedor nos preços dos combustíveis.

Com a abertura do setor de petróleo, a ideia era deixar que os preços da gasolina, do óleo diesel e de outros derivados de petróleo flutuassem livremente sem que os consumidores fossem afetados pelas alterações bruscas das commodities no exterior. Mas a Cide acabou perdendo a função, como lembrou Pires na entrevista.

“A Cide foi deturpada ao longo do tempo porque primeiro se começou a dividi-la entre União, estados e municípios e a ideia do fundo é que se tenha dinheiro disponível para diminuir a volatilidade dos preços dos combustíveis quando acontecer aumento grande no mercado de petróleo, então a Cide não atende mais isso”, afirmou à Agência Nossa o economista indicado para assumir o comando da Petrobras.

Neste mês, o Senado aprovou um projeto de lei, no mesmo dia do “reajuste bomba”, para a estabilização dos preços de combustíveis, que prevê um mecanismo parecido com a antiga Cide. Assim, quando  as cotações internacionais estiverem em queda, o preço não recua, mas também não dispara em momentos de alta.

No ano passado, o ex-presidente da Petrobras, Roberto Castelo Branco, também foi demitido do cargo após reajustes nos preços do combustíveis.