Sabemos que o crescimento infinito das empresas no mundo todo não é viável e nem mesmo é possível, visto que os recursos do nosso planeta Terra são finitos. Os ciclos de destruição da natureza precisam ser rapidamente interrompidos para que possamos continuar utilizando-os de forma sustentável. E o gerenciamento corporativo por meio de ESG é o melhor caminho para atingir essa meta global.

As questões ambientais, sociais e de governança corporativa, tríade que ficou conhecida como ESG (do inglês “Environmental, Social and Governance”), vêm ganhando cada vez mais visibilidade e importância no ambiente empresarial. E essas práticas são bem recebidas por investidores e pelo público consumidor.

De acordo com uma pesquisa realizada em 2019 pela Union + Webster, divulgado pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), 87% dos brasileiros preferem comprar mercadorias de empresas sustentáveis, mesmo que este produto seja um pouco mais caro.

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Outro estudo, “ESG e as Empresas de Capital Aberto”, realizado em 2021 pela Grant Thornton Brasil, a XP Inc. e a Fundação Dom Cabral com lideranças das áreas de Sustentabilidade e Relacionamentos com Investidores de 167 empresas revelou que 75% dos investidores consideram ESG como prioridade e, apesar de apenas 14% levarem em conta esse aspecto para a decisão, 86% acreditam que poderão sofrer impacto negativo no futuro caso não adotem uma gestão que considere ESG. Sendo que, entre as empresas do setor de finanças, 100% consideram os aspectos de ESG como tema prioritário.

Outro exemplo da relevância do tema é que, em janeiro deste ano, a B3 passou a ranquear os indicadores de sustentabilidade das empresas (ISE), mostrando assim as pontuações dos campeões de ESG no Brasil. O objetivo foi de oferecer ao investidor um melhor entendimento sobre a evolução dos índices de sustentabilidade. No topo dalista estão empresas como a EDP Energias do Brasil, as Lojas Renner, a Telefônica, a CPFL e a Natura Cosméticos.

O balanço social, que é relatório contábil que traz as informações de como uma empresa efetivamente minimiza os impactos no meio ambiente e constrói uma responsabilidade social para as pessoas que habitam em seu entorno, é assunto recorrente nos diálogos envolvendo o mercado de capitais. Logo, essa visibilidade vem fazendo muitas empresas buscarem na ESG um meio de alancar cadeia de valor para sua imagem.

Portanto, a aplicação do ESG em processos produtivos e operacionais e em suas estratégias de negócios é essencial. Contudo é importante frisar que este processo é de médio a longo prazo, e também deve ser adotado como procedimento recorrente da empresa. Sua complexidade aumenta ao passo que essas práticas terão impactos externos à corporação.

Um dos cases de maior sucesso que temos aqui no Brasil é da empresa FS Bioenergia, uma das maiores produtoras brasileiras de etanol do Brasil, é responsável pelo pioneirismo em produzir de etanol, nutrição animal e bioenergia 100% a partir do milho. A empresa implementou em grande escala as práticas ESG, em uma operação que acobertou cerca de 1,5 milhão de hectares, localizados em 348 municípios brasileiros, situados em 19 estados, com um total de 1,6 mil parceiros de negócios.

Para que o sucesso da implementação da ESG seja real, é preciso analisar em qual etapa de sustentabilidade a empresa se encontra, quais são os procedimentos que já existem e se são aplicados na prática. Outra questão importante é a definição do plano de ação. Todas essas questões devem ser analisadas e respondidas antes de aplicar a ESG na empresa e esse processo irá evidenciar os pontos fortes e pontos a serem melhorados.

Leia a série de reportagens “Contradições do ESG”

De nada adianta uma ação ou direcionamento momentâneo, já que o objetivo final é alcançar um melhor futuro para o planeta e para a sociedade que nele habitará. Então, o processo tem que começar pela mudança de mentalidade corporativa, acompanhada de um bom entendimento, na prática, do que é cada conceito do ESG.

O primeiro deles é o Meio Ambiente. No dia a dia, a base meio ambiente aplicada no ESG deve ser conduzido de múltiplas formas, a depender do seguimento da empresa. Os principais aspectos ambientais analisam o procedimento habitual da empresa que são empregados em situações como: Utilização de fontes de energia renováveis,Planejamento e gestão de resíduos e de recursos hídricos, Mensuração da emissão de gases de efeito estufa, Desmatamento e ações relativas às alterações climáticas.

Além de trabalhar estes aspectos dentro da própria empresa, a ESG pelo foco meio ambiente também irá observar todos os envolvidos na cadeia produtiva, analisando por exemplo as práticas ambientais dos fornecedores.

O segundo conceito do ESG é a base Social, que contém indicadores como inclusão, diversidade e direitos humanos. As diretrizes sociais estão majoritariamente ligadas ao procedimento e cuidado que a empresa aplica na gestão do capital humano, bem como às comunidades que cercam a empresa, isso incluí questões de segurança e saúde, por exemplo. Essas ações demonstram a efetividade das ações sociais de todo o ecossistema no qual a empresa está evolvida, contemplando funcionários, clientes, fornecedores e comunidade.

E o terceiro conceito é o da Governança Corporativa, em que temos o alicerce principal nos atributos referentes a mensuração e identificação de fraudes, reduzindo assim ações como lavagem de dinheiro, corrupção e crimes contra ordem econômica. A aplicação da governança corporativa é fundamental dentro das empresas, pois está totalmente vinculada à tomada de decisão, e conta também com atribuições utilizadas na gestão da empresa, como: Elaboração de políticas organizacionais; Distribuição de direitos e responsabilidades; Aplicação da diversidade na composição do conselho diretivo; Política de remuneração da alta administração e demais funcionários. Estrutura dos comitês de auditoria fiscal, contábil e financeira; Estabelecimento de critérios e índices da aplicação da governança corporativa na empresa.

Concluímos assim que as práticas de ESG por parte das empresas são o melhor caminho para a saúde corporativa e a saúde mundial. Traz benefícios ao ecossistema, ao crescimento social sustentável e também vantagem competitiva para as empresas. Porém é necessária uma implementação planejada e criteriosa para que as práticas de ESG levem a um resultado eficaz e duradouro. Os gestores devem acompanhar cada passo desse processo juntamente com as novas diretrizes que surgem, e conciliar as novas rotinas operacionais e processuais com uma mudança na cultura corporativa. A empresa ajuda o planeta e investidores, clientes, colaboradores e instituições financeiras agradecem.

* Camila Oliveira é contadora tributarista, autora do e-book “Planejamento tributário aplicado às rotinas fiscais” e professora no curso de graduação em ciências contábil e ADM da Trevisan Escola de Negócios.