A pobreza disparou no Brasil, com um contingente de 62,9 milhões de pessoas – equivalente a 30% da população brasileira, segundo a linha de pobreza que considera pouco menos de metade de um salário mínimo mensal.

Foram 9,6 milhões de pessoas a mais que 2019, quase um Portugal de novos pobres que surgiram ao longo da pandemia.  

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“A pobreza nunca esteve tão alta no Brasil quanto em 2021, desde o começo da série histórica da PNADC em 2012, perfazendo uma década perdida”, afirma o economista Marcelo Neri, autor da pesquisa Mapa da Nova Pobreza, lançada nesta quarta-feira pela FGV Social a partir de dados oficiais da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad), também divulgada hoje pelo IBGE.

Desigualdades regionais escancaradas

O estudo escancara a desigualdade de renda entre estados brasileiros. A Unidade da Federação com menor taxa de pobreza em 2021 foi Santa Catarina (10,16%) e aquela com a maior proporção de pobres foi o Maranhão com 57,90%. 

E se o olhar for direcionado para estratos regionais menores, a magnitude de um Brasil partido assusta ainda mais:

“Lançamos mão de novas possibilidades de segmentar o país em 146 estratos espaciais: aquele com maior pobreza em 2021 é o Litoral e Baixada Maranhense com 72,59%, já a menor está no município de Florianópolis com 5,7%. Uma relação de 12,7 para um refletindo a conhecida desigualdade geográfica brasileira”, narra o texto da FGV Social.

Grupo faz ação social em centro de reciclagem na região metropolitana do Rio

Depois de Santa Catarina, os estados com menores índices de pobreza são Rio Grande do Sul com 13,53% e Distrito Federal com 15,70%. Já os estados mais pobres após o Maranhão são Amazonas (51,42%) e Alagoas (50,36%).

Pernambuco, quase empatado com Alagoas, foi o estado onde a pobreza mais cresceu durante a pandemia, para 50,32% da sua população.

Neri endereça um paradoxo em Pernambuco no início da pandemia. Em 2020, o estado se destacou na melhora da pobreza e na piora nos ingredientes trabalhistas. “A ascensão e queda do Auxílio Emergencial é um candidato para conectar o conjunto de resultados locais de 2020 com os de 2021”, afirma o autor.

Veja aqui os indicadores de pobreza da sua região

Segundo o estudo, a mudança da pobreza entre 2019 a 2021 por Unidade da Federação em pontos percentuais na pandemia revela que o maior incremento se deu em Pernambuco (8,14 pontos percentuais) 2 , Rondónia (6.31 pontos percentuais) e Espírito Santo (5,92 pontos percentuais). 

O Rio de Janeiro também esteve entre os estados com maior aumento da pobreza, com alta de 4 pontos percentuais no índice de pobres.

As únicas quedas de pobreza no período foram observadas em Tocantins (0,95 pontos percentuais) e Piauí (0,03 pontos percentuais). 

Critérios para linhas de pobreza

Seja qual for a linha de pobreza adotada, o contingente de pobres brasileiros em 2021 é o maior da série histórica iniciada em 2012.

Entre 2019 e 2021 a população pobre sobe 9,6 milhões para a linha de U$ 5,50 dia ajustada por paridade do poder de compra (R$ 497 mensais); 5,4 milhões para a linha de U$ 3,20 (R$ 289 mensais) e 3,4 milhões para a linha de U$ 1,90 (R$ 172 mensais).

“Mostramos no presente estudo que se usarmos a linha mais alta de pobreza de R$ 497 em voga nos estudos internacionais recentes, diminui a flutuação transitória da pobreza em 2021, apelidada de “montanha-russa da pobreza”.