A JBS enviou uma carta ao Institute for Agriculture and Trade Policy (IATP) na qual contesta recente estudo sobre emissões publicado pela organização. 

O estudo acusa a maior produtora de carne do mundo de fazer greenwashing e responder por um aumento de 51% das emissões em cinco anos, apesar do compromisso de zerá-las em 2040.

 A empresa brasileira aponta erros metodológicos no estudo a partir de análises do WayCarbon e do professor Peer Ederer (PhD), da Global Food and Agribusiness Network.

“Numa interpretação deliberada dos autores, o relatório levou em consideração a capacidade operacional, não o que foi efetivamente processado. Esse número exagerado foi então multiplicado pelo número de dias úteis do ano, assumindo a utilização de 97% da capacidade da empresa, apesar de o próprio IATP usar uma capacidade de 62% em seu relatório referente à baseline de 2016”, afirma a carta.

JBS é a maior empresa de agro do Brasil segundo ranking Forbes. Foto: Divulgação

“A IATP não ofereceu qualquer justificativa para a mudança. Se houvesse coerência metodológica por parte dos autores, e eles tivessem aplicado a mesma taxa aos dados de 2021, o IATP teria chegado a uma redução de emissões de 3%”, completa o documento, assinado pela diretora executiva Assuntos Corporativos e Sustentabilidade da JBS, Marcela Rocha.

Veja a íntegra da carta:

“Prezada Sra. Sharma

A JBS acredita que o diálogo transparente nos impulsiona a aprimorar constantemente os padrões da indústria e garante que todos em nosso setor façam sua parte para um modelo de produção mais sustentável.

Agradecemos todas as oportunidades para debater como podemos desempenhar melhor nosso papel para enfrentar o duplo desafio global de alimentar uma população em expansão, enquanto enfrentamos as mudanças climáticas em um momento de crescente insegurança alimentar global. Nosso compromisso NetZero 2040 sustenta esses esforços e temos sido transparentes sobre os prazos necessários para atingir cada fase, fornecendo atualizações à medida que avançamos.

Estamos cientes de nossas responsabilidades na abordagem dessas questões, razão pela qual estamos totalmente comprometidos com a sustentabilidade. Cumprir nossa meta de ser Net Zero até 2040 é nossa prioridade número um e estamos trabalhando ao lado de organizações mundialmente reconhecidas, como a SBTi (Science Based Targets Initiative) e o CDP (Carbon Disclosure Project), para avaliar e auditar as reduções de emissão com a base na ciência.

Por isso escrevo para destacar graves erros metodológicos nos cálculos do relatório da IATP, publicado em conjunto com a Mighty Earth em 21 de abril, e solicitar uma retratação imediata.

Após uma análise minuciosa, especialistas independentes apontaram que o relatório usa uma metodologia errônea e manipulação grosseira de dados para chegar a conclusões sobre as emissões da JBS que são simplesmente falsas, levando a erro jornalistas, leitores e o público em geral. Os principais pontossão detalhados em seguida. O relatório também se equivoca sobre os compromissos públicos assumidos pela JBS para lidar com suas emissões de escopos 1, 2 e 3, incluindo metano.

Esses problemas poderiam ter sido facilmente evitados por meio do diálogo antes da publicação. Embora não tenha sido dada para a JBS a oportunidade de comentar o relatório antes de sua divulgação, estamos entrando em contato para garantir uma abordagem baseada na ciência em linha com nosso objetivo comum.

As conclusões abaixo são resultado de um trabalho meticuloso da WayCarbon, consultoria reconhecida internacionalmente, e do professor Peer Ederer (PhD), da Global Food and Agribusiness Network.

  • Grande exagero quanto à utilização efetiva da capacidade de processamento: para concluir que as emissões da JBS cresceram 51% de 2016 a 2021, a principal extrapolação foi o aumento de processamento de animais que, segundo o IATP, foi de 54% para bovinos, 67% para suínos e 40% para aves. Numa interpretação deliberada dos autores, o relatório levou em consideração a capacidade operacional, não o que foi efetivamente processado. Esse número exagerado foi então multiplicado pelo número de dias úteis do ano, assumindo a utilização de 97% da capacidade da empresa, apesar de o próprio IATP usar uma capacidade de 62% em seu relatório referente à baseline de 2016. A IATP não ofereceu qualquer justificativa para a mudança. Se houvesse coerência metodológica por parte dos autores, e eles tivessem aplicado a mesma taxa aos dados de 2021, o IATP teria chegado a uma redução de emissões de 3%.
  • As emissões que o IATP apresentou não refletem a realidade das operações da JBS e são baseadas em dados desatualizados e generalistas: dados equivocados foram baseados em premissas globais e macrorregionais estimadas do FAOSTAT datadas de 2010. Houve uma evolução considerável nos dados em termos de estrutura, idade, peso e taxas de rendimento de carcaça, além de informações sobre produção, tipos de alimentos e sistemas de produção que a JBS poderia ter compartilhado caso tivéssemos sido contatados previamente.
  • Por exemplo, erro na estimativa nas emissões por animal: o peso médio de bovinos na idade de processamento da JBS no Brasil em 2021 foi aproximadamente 6% maior do que o considerado nos cálculos do IATP. Essa diferença leva a um número maior das emissões por animal. Quando se utilizam os mesmosfatores de emissão para um volume menor de carne bovina produzida, isso indica um sistema menos eficiente em relação ao que ocorre de fato. Essa lógica pode ser extrapolada para a idade do animal, quando é enviado para processamento, e para a taxa de rendimento de carcaça.
  • Falta de due diligence na seleção do conjunto de dados e nenhuma tentativa de refletir as especificidades da produção do Brasil, apesar da disponibilidade pública de dados relevantes mais atualizados: embora o IATP não tenha tido acesso a dados específicos da JBS, em vez de usar um banco de dados generalista com mais de uma década de defasagem, o estudo poderia ter utilizado o Ecoinvent, atualizado em 2020 pela Embrapa, ferramenta reconhecida internacionalmente que fornece números específicos para a produção brasileira. O fator de emissão apresentado pelo IATP foi 37% superior ao apresentado no Ecoinvent, que leva em consideração todos os aspectos como fermentação entérica, gestão de resíduos, produção de alimentos, uso de insumos e fertilizantes, operações no campo, energia na produção animal, transporte e mudanças no uso do solo.
  • Extrapolação grosseira das emissões de fermentação entérica: o IATP adotou valores globais com poucos dados específicos para a realidade da JBS. No caso do Brasil, isso resultou em um valor 25% superior ao apurado pela Companhia com base no inventário nacional brasileiro compilado pelo MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações) em 2020.
  • Discrepância dos fatores de equivalência validados pelo IPCC da ONU afeta a estimativa: os fatores de equivalência do Potencial de Aquecimento Global para 100 anos (GWP100) adotados pelo IATP também afetaram a estimativa de emissões. Enquanto o IPCC da ONU indica, no caso do metano, uma proporção de 27,9 vezes em relação ao CO2, para o IATP esse valor foi de 34 vezes. No caso do óxido nitroso, enquanto o IPCC calcula essa relação em 273:1, para o IATP, essa proporção foi de 298:1.
  • Extrapolação exagerada das emissões de uso da terra devido a dados desatualizados: o equívoco de usar dados desatualizados também aparece nas emissões de mudanças no uso da terra. Se fosse considerada a ferramenta BRLUC, elaborada pela Embrapa, a produção animal teria sido responsável por 14% das emissões, e não 30%. 

No que diz respeito às duas principais recomendações do relatório – divulgação de emissões alinhadas às melhores práticas internacionais e auditoria independente de terceiros de nossas metas Net Zero –, ambas já estão em andamento conforme anunciado anteriormente pela JBS.

Embora reconheçamos que ainda há muito trabalho a fazer para cumprir nossa meta Net Zero, isso só será alcançado por meio de um trabalho rigoroso e uma abordagem baseada na ciência, com a qual estamos totalmente comprometidos.

Acusações falsas baseadas na utilização de dados imprecisos na busca de manchetes fáceis são contraproducentes e servem somente para frustrar o trabalho de todos aqueles que buscam estabelecer referências e benchmarks para impulsionar a mudança necessária em nosso setor.

Essa mudança exige que todos – produtores, indústria, varejistas, consumidores, pesquisadores, governos e terceiro setor – trabalhemos juntos de forma aberta e transparente.

No espírito de impulsionar mudanças reais, permanecemos abertos ao diálogo, desde que seja de forma construtiva e orientada pela ciência.

Em anexo você pode consultar o relatório completo elaborado pela WayCarbon e a análise do professor Peer Ederer pode ser lida aqui: https://www.foodandagribusiness.org/research/comment-on-iatp/.

Atenciosamente,

Marcela Rocha

Diretora Executiva de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade

JBS SA”