A debandada do impresso para o digital varreu veículos de imprensa e negócios de livros do mapa cultural. Na última década foram à falência 26,7 mil organizações da mídia, editoras e livrarias, entre outros negócios relacionados à indústria e varejo de livros, jornais e revistas.

O montante de negócios fechados equivale a 35% das organizações que operavam dez anos antes, mostra o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em pesquisa divulgada que acaba de ser divulgada.

O jornal espanhol El País por exemplo anunciou nos últimos dias de 2021 o encerramento de suas operações no Brasil, iniciada em 2013. “Neste tempo, apesar de ter atingido grandes audiências e um número considerável de assinantes digitais, ela não alcançou sua sustentabilidade econômica, o que levou à decisão por sua descontinuidade”.

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Com as mesmas dificuldades de monetização decorrente da migração publicitária, dezenas de milhares de jornais e revistas têm fechado as portas. Veículos de comunicação relatam entre outros problemas fuga de investimentos em publicidade para grandes plataformas como Google e Meta (Facebook).

O exemplo do El País não está computado na pesquisa do IBGE porque a pesquisa se refere aos últimos dez anos encerrados em 2020. Mas vários outros títulos tradicionais não resistiram à crise e fecharam portas, como o lendário Diário de S. Paulo, que decretou falência em 2018, e a editora Editora Escala, então proprietária de marcas como Tititi, Minha Novela e TV Brasil, encerrando a produção de 15 títulos.

Nem mesmo a forte editora Abril resistiu; decretou recuperação judicial.

A versão brasileira da revista Rolling Stone parou de circular a versão impressa, assim como a da Gazeta de Alagoas, após 84 anos de circulação.

Bancas de jornais se reinventaram com novos produtos e serviços para sobreviver.

Entre o mercado editorial, livrarias e editoras quebraram em meio a novas maneiras de vender livros, via plataformas gigantes como a Amazon e a migração da leitura de livros impressos para e-books.

As dificuldades de grandes redes como Saraiva e Cultura ilustram bem o que tem acontecido com o setor.

A pesquisa investigou todo o setor cultural e concluiu que a pandemia provocou a perda cerca de 1 milhão de postos de trabalho em 2020.

Pandemia impactou atividades culturais de todo tipo

Entre 2019 e 2020, as atividades relacionadas à cultura que mais perderam pessoal ocupado foram moda, o setor moveleiro, impressão e reprodução, as atividades relacionadas a eventos, recreação e lazer.

Já as ocupações que mais fecharam postos de trabalho foram organizadores de conferências e eventos; alfaiates, modistas, chapeleiros e peleteiros; marceneiros e afins; profissionais da publicidade e da comercialização.

O estudo mostra ainda que 338,7 mil organizações formais, sobretudo empresas, atuavam em atividades consideradas culturais em 2019, uma redução de 38,8 mil em relação a 2009. Elas representavam 6,5% do total de organizações e ocupavam 2,0 milhões de pessoas, sendo 1,6 milhão de assalariados (3,4% do total). Houve perda de participação do setor ante 2009, quando a cultura representava 7,8% das empresas e 3,5% dos assalariados. O valor adicionado das atividades culturais foi de R$ 256 bilhões em 2019.

As oito atividades centrais da cultura, conforme classificação da Unesco, respondem por 66,2% das organizações e 51,1% dos assalariados da cultura, e pagaram, em média, R$ 2.840 mensais. Já as atividades periféricas (equipamentos e materiais de apoio) incluíram o restante das organizações (33,8%) e dos assalariados (48,9%), com remuneração média maior (R$ 4.366 mensais).

Em uma década, equipamentos e materiais de apoio teve a maior contribuição para a queda de 10,3% do número de organizações da cultura, com a redução de 40,2 mil empresas, influenciado pelo comércio varejista especializado de equipamentos e suprimentos de informática.

Já nas atividades culturais centrais, além de livro e imprensa, design e serviços criativos ganharam 31,7 mil (alta de 91,9%), acumulando o maior número de organizações, 19,6% do total da cultura.