O país que concentra a maior parte da Amazônia ficou de fora do compromisso entre nações contra o desmatamento de florestas que acaba de ser anunciado na COP27. A 27a Conferência das Partes da Convenção do Clima da ONU, no balneário egípcio de Sharm El-Sheikh, começou nesta semana e será encerrada no dia 18.
O lançamento da Parceria de Líderes de Florestas e Clima (Forest and Climate Leaders Partnership), promovido pelo Reino Unido nesta segunda-feira durante a COP, foi marcado pela ausência do Brasil, que abriga a maior floresta tropical do planeta. O painel reuniu representantes de diversos países e regiões que se comprometeram a zerar o desmatamento e recuperar florestas até 2030, como desdobramento de acordo firmado no ano passado em Glasgow.
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O Brasil foi lembrado nos discursos de líderes, em tom de euforia com a eleição de Lula. O presidente eleito foi convidado e deve marcar presença na COP27 na próxima semana, ao lado de Marina Silva, a quem deve anunciar o ministério de Meio Ambiente na ocasião.
“Nós sabemos o que o presidente Lula fez quando esteve na presidência, e sabemos o que ele está preparado para construir”, afirmou John Kerry, enviado especial dos Estados Unidos para o clima.
O ex-vice-presidente dos EUA Al Gore afirmou durante a conferência que o Brasil “escolheu parar de destruir a Amazônia”.
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Já o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, considerou o compromisso declarado de Lula com o combate ao desmatamento “muito animador” e afirmou que o seu país está aberto à reativação do Fundo Amazônia.
Jonas Gahr Store, primeiro-ministro da Noruega, disse que o mundo “precisa da liderança” brasileira no combate ao desmatamento.
Na COP26, anterior a esta, 145 países que, juntos, somam mais de 90% das florestas do mundo haviam se comprometido a “fortalecer” esforços contra o desmatamento e para a recuperação de áreas degradadas, entre eles o Brasil. Na prática, porém, o acordo não andou.
E pior, signatários como o Brasil e a República Democrática do Congo retrocederam: o desmatamento continuou avançando sob Bolsonaro e o país africano iniciou leilões de blocos de petróleo em áreas de florestas tropicais. A parceria anunciada nesta segunda, que será coordenada pelos Estados Unidos e por Gana, se propõe a “passar das intenções às ações”.
As emissões de gases de efeito estufa no Brasil tiveram em 2021 sua maior alta em quase duas décadas, o desmatamento da Amazônia Legal teve, até outubro, a pior marca da série histórica atual, e o Cerrado, por fim, já perdeu metade de seu território.
O Brasil despejou na atmosfera 2,42 bilhões de toneladas brutas de CO², o que representa um aumento de 12% em relação a 2020 e a maior alta nas emissões de gases do efeito estufa em 19 anos, segundo levantamento do Observatório do Clima. Especialistas apontam que a principal causa da alta é o desmatamento.
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“Estamos em uma estrada para o inferno climático com o pé ainda no acelerador”, afirmou durante a abertura da COP27 o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Diante de mais de cem chefes de governo, Guterres afirmou que estamos perdendo a luta de nossas vidas com o aumento contínuo das emissões de gases de efeito estufa e das temperaturas no planeta. A invasão da Ucrânia pela Rússia, segundo ele, “expôs os riscos profundos do nosso vício em combustíveis fósseis”.
Para evitar o pior, disse Guterres, principalmente os países do G20 devem acelerar imediatamente sua transição. Ele sugeriu que a COP27 resulte no que chamou de pacto de solidariedade climática entre economias desenvolvidas e emergentes, em que todos os países fariam um esforço extra para reduzir as emissões nesta década, com ajuda financeira para os menos desenvolvidos. “É pacto de solidariedade climática ou pacto de suicídio coletivo”, discursou o secretário-geral da ONU.
O objetivo da proposta é acabar com a dependência de combustíveis fósseis, eliminando gradualmente o carvão nos países da OCDE até 2030 e em todo o planeta até 2040.
*Com reportagem de Felipe Werneck e Leila Salim, do Observatório do Clima