Antes da goleada da Inglaterra contra o Irã, jogadores dos dois times protestaram no país que reúne ditadura, mulheres sob tutela de homens e homossexualismo considerado crime por lei.

Iranianos não cantaram o hino de seu país, ficaram em silêncio – no Irã mulheres também enfrentam subtração de direitos básicos. 

E ingleses, de joelhos, protestaram contra o racismo, mas não puderam se manifestar a favor da causa LGBTQIA+, ameaçados pela FIFA de tomar cartão amarelo.  Um relatório publicado pela ONG Human Rights Watch em outubro documentou 11 casos de violações aos direitos da população LGBTI+ no país.

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Outras manifestações precederam a Copa em Doha, no Qatar.  Trabalhadores imigrantes que ajudaram a construir a infraestrutura da Copa protestaram reivindicando salários não pagos. Muitos foram expulsos do país, segundo a Equidem, organização não-governamental voltada aos direitos humanos e trabalhistas em comunidades marginalizadas.

O Observatório dos Direitos Humanos (HRW, na sigla em inglês) também afirma que irregularidades foram cometidas nas obras de infraestrutura, como o não pagamento de salários e a alta taxa cobrada para os imigrantes terem o direito de exercer sua profissão, em uma situação em que acabavam pagando para trabalhar.

Manifestação contra a Fifa antes da Copa cita condições de trabalho no Qatar

A Anistia Internacional escreveu uma carta endereçada a Gianni Infantino, presidente da Fifa, pedindo que a organização doasse os 440 milhões de dólares da premiação para financiar compensações aos trabalhadores do evento, como indenizações e a criação de um centro de apoio para os profissionais. 

Em resposta, Infantino afirmou que a competição gera empregos, e “quando você dá um emprego para alguém, mesmo em condições difíceis, você está dando dignidade e orgulho para aquela pessoa”.

Em fevereiro de 2021, uma reportagem do jornal inglês The Guardian revelou que, desde 2010, quando o Catar foi anunciado como a sede da Copa de 2022, mais de 6.500 trabalhadores imigrantes do sudeste asiático morreram no país, 37 deles em obras para construção de estádios. Apenas três foram confirmadas pelo Catar, que afirmou que as outras mortes aconteceram em ocasiões “não relacionadas ao trabalho”.

Nárnia

Em outra dimensão, na cerimônia de abertura da Copa do Mundo, o ator Morgan Freeman, ao lado do influencer catari Ghanim Al Muftah, que conduziram o evento, discursaram sobre inclusão em meio às manifestações que denunciaram desrespeito aos direitos humanos no Catar.

“Dessa terra, ouvimos um chamado para o mundo, para reconectar, para retornar apenas por um momento para o que nos agrupa, para o que nos junta nessa jornada do leste para o oeste. Nós nos movemos juntos buscando um objetivo”, declarou o astro de Hollywood.

Tamim bin Hamad al-Thani, Emir do Catar, fez o discurso oficial de abertura.

“Recebemos a todos de braços abertos na Copa do Mundo 2022. Nós trabalhamos e fizemos muitos esforços para garantir o sucesso desta edição. Investimos para o bem de toda a humanidade. Durante 28 dias, vamos acompanhar essa festa de futebol nesse espaço de diálogo e civilização. As pessoas, por mais que sejam de culturas, nacionalidades e orientações diferentes, vão se reunir aqui no Catar. Que beleza juntar todas essas diferenças. Desejo a todas as seleções muito sucesso. Para todos vocês meus desejos de felicidades. Bem-vindos a Doha”.