A economia brasileira cresceu mais que o esperado no primeiro trimestre, aquecida pelo agronegócio e matematicamente favorecida pela queda das importações. O consumo das famílias, porém, continuou modesto e os investimentos sofreram queda de 3,4%.

Com aumento de 1,9%, o PIB do primeiro trimestre retratou dois Brasis: o do campo que cresce, voltado para exportações, e o do mercado doméstico, do consumidor brasileiro, que continua estagnado, no rastro dos juros altos.

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Do lado da oferta, o PIB Agro subiu 21,6%, sendo a maior alta para o setor desde o último trimestre de 1996. Em relação a igual período do ano anterior, o crescimento foi de 18,8%. De acordo com a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, fatores climáticos beneficiam a atual safra.

“A safra da soja é concentrada no primeiro semestre do ano e problemas climáticos impactaram negativamente a agropecuária no ano passado. Este ano estamos com previsão de safra recorde de soja, que representa aproximadamente 70% da lavoura no trimestre, com crescimento de mais de 24% de produção”, ressaltou Rebeca Palis, do IBGE.

Do lado da demanda, o consumo das famílias continuou morno (0,2%), os gastos do governo variaram 0,3% , enquanto a Formação Bruta de Capital Fixo (investimentos) recuou 3,4%. A contribuição das exportações líquidas foi de 1,4% (as exportações variaram -0,5% e as importações encolheram 7,1% ante o 4T22).

Ou seja, dadas as contribuições de -0,5% da absorção doméstica, de +1,0% do aumento involuntário de estoques (que são contabilizados como uma adição à formação bruta de capital fixo) e de +1,4% das exportações líquida de bens e serviços, chegamos ao PIB de 1,9% pelo lado da demanda, destrinchou o relatório macroeconômico do Banco Fibra. 

“É importante lembrar que as importações são um “vazamento” de PIB para o exterior (grosso modo, elas entram com um sinal negativo no cálculo do PIB), de modo que a variação trimestral (ao peso no PIB de quase 17% no 1T23) acaba contribuindo sozinha com +1,2% para o crescimento do PIB (…) pelo lado da demanda agregada, a (primeira) leitura do PIB é boa, mas (no fim) é ruim, afirma documento, assinado pelo economista-chefe Marco Maciel.

Agropecuária cresceu 21,6 % no primeiro trimestre. Foto: Jaelson Lucas/AEN-PR

Voltando ao lado da oferta,  o setor de serviços, que tem peso enorme no PIB, cresceu 0,6% no período puxado pelas altas nos setores de transportes e de atividades financeiras, ambos com crescimento de 1,2%. “Nas atividades financeiras vimos um impacto dos seguros, pois o valor dos prêmios cresceu, mas o dos sinistros caiu, e o setor tem um ganho quando acontece isso”, avalia Palis.

Já o setor de informação e comunicação (-1,4%) apresentou a maior queda do primeiro trimestre para os serviços. “A queda dessa atividade pode ser explicada, em grande parte, por uma base de comparação alta. Foi a atividade que mais cresceu depois da pandemia, se encontra 22,3% acima do patamar do quarto trimestre de 2019.”, explica a coordenadora.

A indústria apresentou estabilidade (-0,1%) no primeiro trimestre de 2023, com  queda na indústria de transformação, de bens e equipamentos.

“Embora os resultados do PIB e do setor agropecuário sejam encorajadores, as quedas na ndústria e nos investimentos requerem cautela. É importante notar que esse resultado positivo não elimina a expectativa de uma desaceleração ao longo de 2023. Taxas de juros elevadas, restrições nas linhas de crédito e o desaquecimento da economia global tendem a limitar um desempenho mais robustoao longo do ano”, diz o economista paulo silva, Analista ALM da Efí, Paulo Silva.

As Indústrias Extrativas (7,7%), registraram o melhor resultado, sendo afetadas pela alta tanto da extração de petróleo e gás e como de minério de ferro. Houve destaque também na atividade de Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (6,4%) com a melhoria das condições hídricas.

Em resumo, a atividade surpreendeu positivamente nesse 1º trimestre, especialmente por conta do desempenho da agropecuária, fator que não deve se repetir nos próximos trimestres, pelo menos não na mesma magnitude, comenta o ecnomista Fabricio Silvestre, do TC, plataforma para investidores com educação financeira, análise de dados e inteligência de mercado.

A Construção (1,5%), por sua vez, teve sua décima alta consecutiva, porém em desaceleração já que a massa salarial real do setor cresceu, mas os insumos típicos da construção mostraram queda em relação ao ano anterior.