O contrato de venda da energia de Mendubim, uma das maiores usinas do Brasil que será inaugurada em abril, deve servir de modelo para novos projetos de energia renovável no País. O fato inovador foi lastrear a venda ao dólar, uma prática que não costuma ser usada neste segmento.

O contrato em dólar de 20 anos, firmado com a Alunorte e lastreado em dólar foi chave para financiar parcialmente a usina, garantindo 60% da venda da energia produzida. Outros 40% da produção será, ainda, comercializada no Mercado Livre de Energia.

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O gerente nacional da Scatec no Brasil, Aleksander Skaare,  disse nesta quarta-feira que PPAs em dólar deverão ser cada vez mais promissores para empresas que tenham grande parte de seus custos e faturamento lastreados na moeda estrangeira, ou que sejam grandes exportadores.

“Como energia é um grande componente do custo operacional de muitas indústrias, e como a taxa de juros nos Estados Unidos é geralmente muito mais baixa que a do Brasil, esta é uma opção que tende a crescer no país”, afirmou, durante evento para detalhar a engenharia financeira que permitiu o financiamento da usina solar.

As norueguesas Scatec, Hydro e Equinor possuem cada uma 30%. A compradora de energia Alunorte, a maior refinaria de alumina do mundo, ficará com 10% do projeto.

O investimento total na planta alocou mais de R$ 2,1 bilhões e compreende 13 usinas em uma área cujo perímetro estende-se por 38 quilômetros. Mendubim, um complexo de energia solar de 531 MW, será  inaugurado dia 9, em Assu, no Rio Grande do Norte. 

Para financiar o início do projeto, em novembro de 2022, foi contratado um empréstimo fundamental de US$ 243 milhões junto ao BID Invest (um dos braços do Banco Interamericano de Desenvolvimento-BID), ao Banco Santander e ao BNP Paribas. O valor foi fundamental para dar início ao projeto. 

O restante do investimento (US$ 187 milhões) foi desembolsado pelos sócios do empreendimento – a fornecedora líder de soluções de energia renovável Scatec, Hydro Rein e Equinor.

O contrato de venda que viabilizou o investimento previu a entrada da compradora Alunorte, pertencente ao grupo Hydro, como parte investidora (10%) a partir da entrada em operação comercial do projeto, que ocorreu em março de 2024, possibilitando o enquadramento da Alunorte na categoria de autoprodutor de energia.

 “O acordo foi inovador, pois previa o financiamento em dólares americanos (US$), algo até, então, inédito considerando uma estrutura de autoprodução. Foi também o financiamento em dólar mais longo já realizado para projetos de renováveis no Brasil”, comenta Deborah Canongia, Vice-presidente LATAM de novos negócios. 

A iniciativa se antecipou à vigência da nova legislação – que regulou esse instrumento de compra e venda de energia em dólares no país – aprovada em 2022, mas que só entrou em vigor em janeiro de 2023. 

Já em plena operação, a usina terá capacidade para abastecer o equivalente a mais de 600 mil residências – ou energia suficiente para abastecer capitais do porte de Aracaju. “O Brasil tem imenso potencial de crescimento em energias renováveis. O país já lidera, de longe, as energias renováveis na América Latina, e é um dos principais players internacionais desse mercado. Queremos fazer parte disso”, afirmou Skaare. 

Terje Pilskog, CEO global da Scatec, o crescente mercado de energia solar no Brasil está alinhado com o compromisso da empresa com o progresso sustentável, inclusive porque o projeto evitará que aproximadamente 3 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalentes sejam emitidas na atmosfera.

Com edição de Sabrina Lorenzi