Um estudo inédito feito pelo projeto Mais Pelo Jornalismo (MPJ) mostrou que 2.352 mídias jornalísticas desapareceram do Brasil em uma década. Neste período, 10.795 veículos (entre jornais, rádios, TVs e portais) foram criados, enquanto outros 13.147 tiveram as atividades extintas.
O levantamento tem como base o cadastro de mídias da plataforma de mailings de imprensa I’Max, que financia o projeto que objetiva apoiar veículos de mídia em todo o Brasil.
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“Os anos de 2021 e de 2022 tiveram os resultados negativos mais expressivos. A partir de então, vemos uma recuperação”, afirma Fernanda Lara, CEO do I’Max. “Nos últimos dois anos, 2023 e 2024, a produção jornalística brasileira ganhou fôlego, mas os números acumulados ainda assustam, acrescenta a idealizadora do projeto, ao comentar a relevância da pandemia no saldo negativo. E compara:

Fernanda Lara em gravação de podcast
“Apesar dessa leve recuperação, o déficit permanece bem mais elevado do que tínhamos em 2020, quando o acumulado estava em 1.429.”
O levantamento também analisou dados específicos de veículos impressos e rádios em cidades com até 100 mil habitantes. De 2.400 estações de rádios analisadas, 1.248 não possuíam portal de notícias (52%). Já entre 1.000 veículos de mídia escrita analisados, 214 não tinham site próprio (21%).
Jornalismo local ameaçado
“São percentuais alarmantes, que mostram grandes lacunas a serem preenchidas. O que impede um veículo impresso de divulgar seu conteúdo no ambiente digital? As rádios também poderiam aproveitar sua relevância e audiência para criar um portal e disponibilizar mais informação para a população local”.
O projeto Mais Pelo Jornalismo fornece gratuitamente infraestrutura tecnológica para o funcionamento de sites de notícias, como hospedagem, cibersegurança, SEO, configuração de mídia programática. O público-alvo do MPJ, são publishers (“donos dos veículos”), que, muitas vezes, não têm a infraestrutura mínima para rodarem seus projetos jornalísticos.
“O jornalismo local exerce um papel fundamental em nossa sociedade, pois contribuem para a democratização da informação. De acordo com a edição de 2023 do Atlas da Notícia, 26,7 milhões de brasileiros vivem atualmente em municípios que são chamados de ‘desertos de notícias’, ou seja, não têm mídia para cobertura local.
Projeto Oasis mostra fragilidade financeira
O projeto Oasis, que mapeou o segmento de notícias no Brasil e em países europeus, também capturou dados que mostram a fragilidade do jornalismo. Mais de 40% dos veículos de mídia do Brasil ouvidos pelo projeto vive com menos de R$ 8 mil por mês, valor que mal remunera um jornalista se considerado o piso estabelecido pela classe. O projeto Oasis tem apoio da Ajor (Associação de Jornalismo Digital), da qual a Agência Nossa participa como membro.
Um quarto dos veículos analisados teve a renda bruta do último ano fiscal de até 100 mil reais. Um sexto do total teve renda bruta anual de até 50 mil reais.
Na outra ponta, 10% das iniciativas viram uma renda anual de acima de dois milhões de reais. Nota-se uma distribuição de veículos por todas as faixas de receita, com a renda mediana ficando em torno de 270 mil reais por ano.
Buscou-se reunir no projeto Oasis organizações jornalísticas nativas digitais, que trabalhassem com conteúdo original, dando especial atenção àquelas mais diversas geograficamente.
Embora o mercado jornalístico esteja se encaminhando, de um modo geral, para a busca de novas fontes de receita, o cenário de meios nativos digitais no Brasil ainda é muito dependente da publicidade. Ao se considerar todas as fontes de receitas empregadas, mais de dois terços das organizações usam publicidade. A segunda forma mais comum envolve a prestação de serviços de conteúdo para outras organizações, o que acaba por ser uma reaplicação de capacidades internas para geração de receita. Destaca-se, ainda, a importância das subvenções, ou grants, aqueles auxílios financeiros proporcionados via edital ou seleção, tanto por empresas privadas quanto por governos ou organizações do terceiro setor.