A petroleira americana Chevron venceu a Petrobras em disputas por blocos na Margem Equatorial e se tornou a operadora com maior número de áreas exploratórias deste último leilão para a região. Em meio à luta acirrada da companhia brasileira para garantir licenciamento ambiental para perfurar na nova fronteira, as gigantes americanas roubaram a cena do certame que triplicou a área sob concessão de petroleiras na Foz do Amazonas.

Em consórcio com a chinesa CNPC Brasil, a Chevron arrematou nove blocos na Foz do Amazonas. Já a Exxon Mobil, da marca Esso no Brasil, conseguiu a concessão de cinco áreas, como operadora em consórcio com a Petrobras. A companhia brasileira, por sua vez, também ficou com cinco blocos para operar, em parceria com a Exxon. 

Foram arrematados 40% dos 47 blocos ofertados na nova fronteira exploratória — mais que triplicando a área concedida na Foz do Amazonas de 5,7 mil km² para 21,9 mil km².

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O governo brasileiro leiloou para petroleiras nesta semana concessões de cerca de 16,3 mil quilômetros quadrados na Foz do Amazonas, uma região sensível alvo de polêmica e resistência de ambientalistas.

Companhia que mais arrematou neste leilão da ANP áreas na Foz do Amazonas, a Chevron possui um portfólio no Brasil que inclui 17 blocos exploratórios localizados nas bacias de Campos e Pelotas. 

A empresa foi multada em centenas de milhares de reais no começo da década passada por um expressivo vazamento de petróleo na bacia de Campos. As autoridades concluíram que o poço por onde escapou petróleo não estava bem revestido para suportar a pressão e que houve erro da petroleira. A Chevron disse nos primeiros dias de vazamento que havia no local uma exudação natural e que não tinha responsabilidade pelo incidente.  Uma denúncia da Reuters a partir de um relatório da ANP, contudo, deu visibilidade ao caso e posteriormente a petroleira assumiu a responsabilidade pelo vazamento. 

Magda Chambriard entre diretoras e um diretor (na foto) na coletiva para jornalistas sobre seu primeiro ano de gestão na Petrobras. Foto: Agência Nossa

O caso, além de levar a Chevron a cumprir medidas e investimentos para aperfeiçoar suas atividades no campo de Frade, resultou em investigação da Polícia Federal que levou outras petroleiras atuantes na bacia de Campos a adotar as mesmas práticas de revestimento de poços. Também resultou num plano de emergência para a região, que até então não existia.  

A companhia americana desembolsou R$ 350 milhões na Bacia da Foz do Amazonas e, deste total, R$ 104 milhões foram por um único bloco, com lances bem mais agressivos que os de suas concorrentes.  

“Quem sabe a Chevron não ficou preocupada em perder mais uma vez?”, justificou a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, em entrevista para jornalistas na sede da estatal. Segundo ela, a Petrobras levou as áreas que queria na nova fronteira, os blocos que considera mais estratégicos.

Sobre a parceria com a Exxon, a diretora de Exploração e Produção, Sylvia Anjos, disse que “a Exxon é a melhor operadora da Guiana, por isso é a melhor parceira que a gente pode ter”.

Para a diretora executiva do Instituto Arayara, Nicole Oliveira, foi positiva a ausência de interessados nos blocos sobrepostos a Áreas de Influência Direta (AID) de Terras Indígenas e nos blocos da bacia Potiguar —localizados na cadeia de montes oceânicos de Fernando de Noronha, que tem ligação ecológica com o arquipélago e o Atol das Rocas. “Dos 118 blocos considerados litigiosos, apenas 23 foram arrematados, o que representa um índice de sucesso de mais de 80% nas ações de resistência articuladas por organizações e comunidades. Isso mostra que a mobilização da sociedade civil tem impacto real”, disse a diretora, segundo o Observatório do Clima.