Quando o avião movido a combustível fóssil não é uma alternativa para quem levanta com força a bandeira do clima, o jeito é ir até Belém pedalando, velejando ou os dois. Centenas de pessoas preferiram se deslocar de seus estados, países, continentes de bicicleta e barco a vela para a COP30, que acontece neste mês na capital paraense.

Do Azerbaijão ao Brasil, uma expedição de 11 mil quilômetros está em curso há pelo menos seis meses. O ponto de partida foi Baku, aglutinando centenas ao longo do caminho ou em outras duas rotas. Seiscentas pessoas aderiram à COP30 Bike Ride: Pedaling (and sailing) for Climate Protection para chegar em Belém de maneira totalmente sustentável.

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No começo de outubro, ciclistas oriundos da Ásia, Europa oriental e ocidental com destino à COP chegaram à Espanha para seguir até o ponto de embarque da atravessia do oceano, em Portugal. Rotas na Africa e no Brasil também atraíram para o movimento  viajantes que decidiram praticar à risca o net zero dos discursos proferidos nas conferências do clima da ONU.

A jornada contou com diversos pontos de partida em continentes, incluindo Europa, Ásia Central, África e Américas. 

A jornada começou em maio no Azerbaijão, seguindo em junho na Turquia; em julho nos Bálcãs, Polônia e Alemanha; agosto na Holanda/Bélgica; agosto na Itália; setembro na França  e  outubro Espanha/Portugal. Enfim, a previsão de travessia do Atlântico em entre outubro e novembro rumo ao Brasil, com a iniciativa Flotilla4change.

Os participantes transportam, como uma chama olímpica, uma bandeira simbólica. Mas o que carregam de mais importante são as propostas para aproveitar o ciclismo na proteção do clima. 

A avaliação do movimento é que o ciclismo é uma alternativa subaproveitada nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). NDCs são planos climáticos abrangentes que os países adotam como compromissos para alcançar o Acordo de Paris sobre o clima.

Apenas 25% dessas NDCs incluem medidas de mobilidade ativa (ciclismo e caminhada). Além disso, aquelas que mencionam medidas de mobilidade ativa não impõem prazos. Analisando mais especificamente o ciclismo, apenas 17% dos países de alta renda o incluem em suas NDCs. Além das NDCs, apenas 17% dos países têm uma política nacional sobre ciclismo. 

Embora a combinação de uma mudança realista para caminhada/ciclismo/transporte público possa levar a uma redução de 50% nas emissões do setor de transportes, segundo dados da PATH – Parceria para Mobilidade Ativa e Saúde.

Na bagagem, as 10 propostas da COP30 Bike Ride: Pedaling (and sailing) for Climate Protection para a Conferência do Clima em Belém.

1) Concluir uma rede estrutural básica de ciclovias até 2030, especialmente com conectividade interurbana e multimodal para deslocamentos diários. Se a base já existe, que seja ambiciosa!
2) Diminuir o tráfego de carros limitando tanto a velocidade quanto o volume.
3)Desenvolver planos específicos até 2030, abrangendo todas as possíveis alavancas para o desenvolvimento do ciclismo (com financiamento adequado e específico, e avaliações de melhorias que incluem as associações de ciclistas).
4) Aumentar significativamente as áreas exclusivas para bicicletas e pedestres até 2030 perto de escolas, terminais de transporte público, comércios locais e áreas verdes.
5) Generalizar a capacidade adequada de armazenamento de bicicletas em centros de transporte, áreas comerciais (!), escolas, escritórios, residências até 2030 (incluindo bicicletas de carga).
6) Desenvolver um tempo e um lugar para o ciclismo: um evento anual de ciclismo de massa, para todas as idades, para promover a modalidade junto a um público amplo + uma “casa da bicicleta” para reparos, treinamento, encontros e hospedagem…
7) Capacitar e informar: treinamento, especialmente para menores de 12 anos e mulheres, para um melhor ciclismo e empoderamento; promover benefícios financeiros (o custo é dez vezes maior por ano para um carro!).
8) Desenvolvedor do setor econômico associado (serviços, produção, leasing, compartilhamento…) por meio de incentivos/subsídios fiscais específicos.
9) Desenvolver logística de bicicletas de carga para entregas de “última milha” (um estudo recente mostra que 42% das entregas feitas por vans utilitárias puderam ser realizadas com bicicletas de carga).
10) Implementar e compartilhar regularmente indicadores para medir e monitorar (satisfação, acidentes, tamanho da rede dedicada, participação modal…).