A onda de imigração de venezuelanos que provoca forte impacto social em Roraima já aparece nos indicadores oficiais de pobreza. Foi o segundo estado brasileiro onde o percentual de pobres mais cresceu no último ano pesquisado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Pela linha definida pelo Banco Mundial – e usada pelo IBGE — são considerados pobres aqueles que vivem com até US$ 5,50 por dia, o equivalente a R$ 406 por mês, segundo a cotação do período analisado. Para a extrema pobreza, o teto é US$ 1,90 por dia.
Cerca de 30 mil pessoas passaram a viver abaixo da linha de pobreza em Roraima, muitas delas nas ruas de várias cidades, principalmente em Boa Vista, e Pacaraima, porta de entrada de imigrantes da Venezuela. A parcela da população pobre em passou de 31,4% para 36,1%, num aumento de 20%.
Pelo menos 1,5 mil pessoas moram nas ruas e praças da capital, segundo levantamento da Organização Internacional para Imigrações (OIM), braço da ONU para o tema. Das 154 mil pessoas que cruzaram a fronteira por Roraima de 2015 a meados do ano passado, 75,5 mil ficaram no Brasil.
Apesar do fechamento da fronteira neste ano, imigrantes continuaram cruzando a fronteira em busca de uma realidade melhor. A Venezuela enfrenta grave crise política e econômica, com restrições no fornecimento de energia e alimentos.
Estado que também recebe imigrantes, São Paulo exibe más notícias. Foi onde a pobreza mais cresceu, reflexo direto da deterioração da qualidade do emprego. O estado que mais emprega também é o que mais sente as sequelas das mudanças no mercado de trabalho, avaliam pesquisadores.
O número de pobres cresceu na maioria dos estados brasileiros, com dois milhões a mais em 2017. No País, quase 55 milhões vivem abaixo da linha de pobreza. Houve aumento em todas as regiões, menos no Norte do País, onde estados como Amazonas, Acre e Rondônia ficaram na contramão da tendência.
Maranhão tem maior índice
No Nordeste, 44,8% da população vive na pobreza. Quem visita os lençóis maranhenses e contempla a vegetação exuberante de um dos estados mais belos do Brasil não compreende por que mais da metade de sua população vive na pobreza. O Maranhão é o estado com maior percentual de pobres no Brasil e esta fatia cresceu ainda mais: de 52,4% para 54,1% segundo a última fotografia do IBGE.
A vida da empregada doméstica Rosemeire Sousa traduz muito bem esses indicadores. Ela recebia apenas um quinto do salário mínimo pelo trabalho diário de 8h às 13h. Sem marido, com a renda complementada pelo Bolsa-Família, Rosemeire conseguiu manter a alimentação durante a infância dos filhos mais novos, o que não foi possível garantir antes, para os demais.
Antes do programa social, ela teve que doar os três primeiros filhos, porque o salário precário no Maranhão não garante alimentação de uma família sem ajuda extra.
A renda média de quem trabalha no Maranhão é a menor do País, seguida do Piauí. No Nordeste, o rendimento médio equivale a apenas 69% do valor alcançado pela média nacional.
Maior desigualdade na Bahia
Na Bahia, a desigualdade na renda do trabalho entre ricos e pobres é a maior capturada pelo IBGE. Considerando a medida dos 10% mais ricos versus os 40% mais pobres segundo a renda do trabalho, o maior hiato acontece na Bahia. Os baianos no topo da pirâmide detêm cerca de 18 vezes mais renda que os 40% mais pobres.
No Brasil, os 10% mais ricos possuem 12,4 vezes mais que aqueles que compõem a base da pirâmide social. Do começo dos anos 2000 até 2015 houve redução da desigualdade da renda do trabalho no Brasil, movimento atribuído à política de valorização do salário mínimo.
Já nos anos seguintes, “devido à redução dos aumentos reais de salário mínimo, à persistência da deterioração dos indicadores do mercado de trabalho e ao aumento da proporção de trabalhadores por conta própria e sem carteira de trabalho, os quais recebem remunerações inferiores”, a desigualdade cresceu aceleradamente, mostra o IBGE na Síntese de Indicadores Sociais de 2018.
Segundo a última fotografia do IBGE, a Bahia tem cerca de 6,9 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza — 44,8% da população. Ainda que não seja o estado com a maior fatia de população pobre, é o que precisa se esforçar mais para contornar o problema porque é o mais populoso em relação aos outros estados com níveis críticos de pobreza.
“Vale do Silício” ajuda Santa Catarina a reduzir pobreza
Santa Catarina tem reduzido o número de pobres, na contramão da triste realidade brasileira. A gerente de Experiência de Pessoas, Thuany Schutz, está a pleno vapor na contratação de desenvolvedores, programadores, especialistas em marketing, atendimento ao cliente e área comercial. A empresa onde trabalha fornece tecnologia para apoiar estratégias em pontos de venda da Loreal, Unilever, Danone, Motorola, Seara, Samsung, entre outras companhias. Procura gente qualificada para preencher 50 vagas com salários de R$ 2,6 mil a R$ 12 mil.
A Involves é uma das empresas que integram o chamado “Vale do Silício Catarinense”. É possível encontrar ali startups, grandes empresas, gestoras de fundos de investimento, aceleradoras, incubadoras, entre outros atores necessários para a formação de ecossistemas de inovação. Localizado em São Francisco, na Califórnia, o Vale do Silício original é uma região conhecida por abrigar os maiores e mais importantes pólos de tecnologia e inovação do mundo, berço de empresas como Google e Facebook.
A concentração de pólos de inovação fortemente geradores de emprego é um dos motivos que fazem de Santa Catarina modelo em indicadores sociais no Brasil. Além de bons resultados em educação e saúde, o estado possui a menor fatia da população abaixo da linha de pobreza, devido à geração de emprego e renda. Santa Catarina reduziu em quase 10% a pobreza. Cerca de 8,5% da população está abaixo da linha de pobreza.