A economia brasileira apresentou crescimento recorde no terceiro trimestre, mas não a ponto de se recuperar das perdas causadas pela pandemia. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 7,7% na passagem do segundo para o terceiro trimestre de 2020 apoiado nas medidas emergenciais que garantiram renda mínima, evitaram demissões e geraram crédito durante o isolamento social.
O desempenho ficou pouco abaixo do esperado por analistas e pelo próprio governo, que apostavam em taxa na casa dos 8% e já acende a luz amarela sobre os próximos trimestres — principalmente a partir de 2021 — quando os programas de apoio do governo federal deverão ser encerrados.
“Crescemos sobre uma base muito baixa, quando estávamos no auge da pandemia, o segundo trimestre. Houve uma recuperação no terceiro contra o segundo trimestre, mas se olharmos a taxa anual, a queda é de 3,9% e no acumulado do ano ainda estamos caindo, tanto a indústria quanto os serviços. A Agropecuária é a única que está crescendo no ano, muito puxada pela soja, que é a nossa maior lavoura”, destaca a coordenadora do Sistema de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
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O brasileiro voltou a comprar mais no terceiro trimestre, mas o aumento foi mais expressivo na taxa de poupança. O consumo das famílias acompanhou o crescimento do PIB e cresceu 7,6% em relação ao segundo trimestre. Mas na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, houve queda de 6%, devido, sobretudo, aos efeitos negativos da pandemia no mercado de trabalho.
De acordo com o IBGE, o auxílio emergencial, a complementação dos salários feita pelo governo federal e o aumento de 8,4% no saldo das operações de crédito destinadas às pessoas físicas, foram determinantes para a recuperação do consumo das famílias no trimestre.
Por outro lado, famílias mais abastadas que deixaram de gastar com serviços em meio à quarentena acabaram economizando. Sem cinema nem bares e restaurantes, a taxa de poupança subiu de 13,7% para 17,3% em apenas um ano, retomando o patamar de 2013.
Já a taxa de investimento também se manteve no mesmo patamar em um ano, o que não pode ser considerado ruim diante do quadro de pandemia. De um trimestre para outro, o investimento cresceu 11%, fazendo frente à reação do consumo com a flexibilização da quarentena.
“Mesmo que os outros componentes ajudem [na recuperação], o consumo das famílias pesa 65% na economia. É o mesmo caso quando olhamos para a parte produtiva, o PIB sempre vai estar relacionado com o serviço e com o consumo das famílias”, explica a pesquisadora.
Sob a ótica da oferta, a indústria foi o setor que mais impulsionou o PIB, com alta de 14,8%. A indústria de transformação deu salto de quase 24%.
Já os serviços, com peso enorme no PIB, apresentaram crescimento em todos os seus segmentos: comércio (15,9%), transporte, armazenagem e correio (12,5%), outras atividades de serviços (7,8%), informação e comunicação (3,1%), administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (2,5%), Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (1,5%) e atividades imobiliárias (1,1%).
Mesmo em alta, os serviços ainda não conseguiram recuperar as perdas do segundo trimestre, de pouco menos de 10%. O isolamento social e a crise econômica, fizeram com que houvesse queda tanto na oferta quanto na demanda.
Também cresceram as atividades de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (8,5%) e a construção (5,6%).
A agropecuária, por sua vez, sofreu leve queda, de 0.5% em relação ao trimestre anterior, mas continua sendo a atividade econômica menos prejudicada pela pandemia.
Segundo Palis, a baixa no setor é explicada pela dinâmica da safra da soja, principal lavoura brasileira, que se concentra nos primeiros dois trimestres do ano. Ainda assim, a expectativa para a soja em 2020 é de crescimento de 7%, o que influencia positivamente o setor. Na comparação anual, a agropecuária registrou variação favorável de 0,4%, confirmando o desempenho de superação ano a ano.
“Crescemos sobre uma base muito baixa, quando estávamos no auge da pandemia, o segundo trimestre. Houve uma recuperação no terceiro, contra o segundo trimestre, mas se olharmos a taxa interanual, a queda é de 3,9% e no acumulado do ano ainda estamos caindo, tanto a Indústria quanto os Serviços. A Agropecuária é a única que está crescendo no ano, muito puxada pela soja, que é a nossa maior lavoura”, destaca Palis.
De acordo com a coordenadora da pesquisa, Rebeca Palis, mesmo com a flexibilização das restrições de funcionamento, as pessoas ainda estão receosas para consumir. As atividades mais afetadas são aquelas ligadas aos serviços prestados às famílias, como alojamento, alimentação, cinemas, academias e salões de beleza. Vale ressaltar que o setor de serviços em geral compõe cerca de ¾ da economia brasileira.
Reportagem de Ingrid Figueirêdo e Sabrina Lorenzi; edição de Sabrina Lorenzi