O consumo de lenha nos lares brasileiros cresceu 3,2% no ano passado, segundo dados mais recentes da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) compilados pela Agência Nossa. Já o uso de gás de cozinha recuou exatamente na mesma porcentagem, consequência da forte alta no preço do combustível e da queda da renda entre os mais pobres.
A parcela de brasileiros que usam lenha para cozinhar ( 26,1%) superou a fatia dos consumidores de gás liquefeito de petróleo, GLP (22,9%) nos últimos anos, com a deteriorização da economia e do emprego. É a segunda maior fonte de energia residencial do Brasil, ficando atrás somente da eletricidade.
Com eficiência energética 10 vezes menor em relação ao gás de cozinha, o uso da lenha traz agravantes à saúde da população e é duas vezes mais poluente que o GLP, afirma a pesquisadora Adriana Gioda, professora do Departamento de Química da PUC-Rio.
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“O problema deste consumo é que está sendo puxado por pessoas mais pobres, que improvisam fogões, sem chaminés, deixando as partículas cancerígenas muito expostas, porque se trata de lenha catada, restos de madeira com tinta, de material tóxico”.
Nas últimas semanas, aumentos nos casos de intoxicação e queimaduras por manuseio de lenha e álcool para cozinhar foram relatados em hospitais do Rio.
A alta no preço dos combustíveis, sobretudo no gás de cozinha, tem levado famílias a cozinhar com restos de madeira. O preço do botijão disparou mais de 60% nos últimos cinco anos.
Em dezembro, o governo começou a pagar a famílias de baixa renda um auxílio de R$ 52 por mês, equivalente a metade do preço médio do botijão naquela época. Em abril, o benefício atingiu 5,4 milhões de pessoas que integram o Cadastro Único do governo federal.
Mas as vendas de GLP, mesmo com o auxílio, continuam recuando, cerca de 5% nos primeiros cinco meses do ano de acordo com dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP).
Sem regras nem carimbo para a destinação dos recursos, representantes do setor de GLP afirmam que o auxílio gás não tem sido usado para a compra de botijão, mas para outros fins, mais urgentes, como comida.
“Criticamos o subsídio generalizado (…) Se é a pobreza energética que se quer combater, precisa carimbar esse recurso. Como transferência de renda é ótimo, legítimo, mas faltou a destinação, não é combate à pobreza energética ”, afirma o presidente do Sindicato das Empresas Distribuidoras de GLP, Sérgio Bandeira de Melo.
A superintendente de Estudos Econômicos da EPE, Carla Achão, não descarta, em entrevista à Agência Nossa que o crescimento do consumo de lenha possa até mesmo ser até maior, considerando que a estatística parte de uma base de dados defasada, por falta de pesquisas atualizadas anualmente. A EPE se baseia na Pnad consolidada do IBGE, com parâmetros como o uso de fogões a lenha nos domicílios e o consumo nos fogões.
A empresa, vinculada ao ministério de Minas e Energia, passou a incorporar em seu balanço energético a fonte solar térmica graças a novas pesquisas que foram lançadas recentemente.