Após quatro meses consecutivos de resultados positivos, a produção industrial recuou 0,4% na passagem de maio para junho. A última queda da indústria havia sido registrada em janeiro deste ano (-1,9%). No primeiro semestre, o setor acumula queda de 2,2% e, em 12 meses, de 2,8%. Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada nesta terça pelo IBGE.
“Isso reflete as dificuldades que o setor industrial permanece enfrentando, como o aumento nos custos de produção e a restrição de acesso a insumos e componentes para a produção de bem final. Nesse sentido, o comportamento da atividade industrial tem sido marcado por paralisações das plantas industriais, reduções de jornada de trabalho e concessão de férias coletivas”, explica o gerente da pesquisa, André Macedo.
O pesquisador também cita alguns fatores que têm impactado negativamente a indústria sob a ótica da demanda. “Há a taxa de juros elevada, a inflação que segue em patamares altos, a diminuição da renda das famílias e, ainda que a taxa de desocupação venha caindo nos últimos meses, há um contingente de aproximadamente 10 milhões de desempregados no país. A característica dos postos de trabalho que estão sendo criados aponta para uma precarização do mercado de trabalho e isso é refletido na massa de rendimento, que não está crescendo. Todos esses aspectos são fatos importantes na nossa análise e ajudam a explicar esse saldo negativo do setor industrial”, analisa.
Com o resultado de junho, o setor ainda se encontra 1,5% abaixo do patamar pré-pandemia, registrado em fevereiro de 2020, e 18,0% abaixo do nível recorde, alcançado em maio de 2011. A variação negativa em comparação a maio foi disseminada pela maioria das atividades econômicas investigadas pela pesquisa. Entre elas, a maior influência veio do setor de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-14,1%), que havia acumulado alta de 5,3% nos dois meses anteriores.
Outro impacto importante no resultado de junho veio do segmento de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,3%), que também se expandiu em abril e maio, acumulando no período aumento de 5,0%. “Nessa atividade, os itens que mais impactaram negativamente foram o álcool e os derivados do petróleo. Mas, mesmo com essa queda, esse segmento opera 4,5% acima do patamar pré-pandemia, ou seja, tem um comportamento distinto da média da indústria”, ressalta.
Também contribuíram para o resultado negativo do setor as atividades de máquinas e equipamentos (-2,0%), de metalurgia (-1,8%), de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-2,8%) e de outros equipamentos de transporte (-5,5%).
Nove atividades se expandiram na comparação com o mês anterior. As que mais influenciaram o resultado geral da indústria, no campo positivo, foram as de produção de veículos automotores, reboques e carrocerias (6,1%) e de indústrias extrativas (1,9%). “O setor de veículos acentuou o crescimento verificado em maio (3,8%), mas essa alta não conseguiu eliminar as perdas anteriores. O saldo dessa atividade ainda é negativo, uma vez que ela ainda está 8,5% abaixo do patamar pré-pandemia”, completa o gerente da pesquisa.
“Em relação às indústrias extrativas, o avanço compensa a perda do mês anterior. Esse crescimento foi pressionado por um maior ritmo na extração do minério de ferro. Antes da queda de maio, o setor extrativo teve três meses de taxas positivas, acumulando expansão de 6,5%”, avalia.
Os segmentos de celulose, papel e produtos de papel (4,5%), de confecção de artigos do vestuário e acessórios (7,1%), de produtos alimentícios (0,6%) e de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (4,3%) também avançaram em junho.