O anúncio do novo comandante do BNDES pelo presidente eleito Lula agradou o setor exportador, funcionários do banco e especialistas que defendem a necessidade de políticas industriais para a geração de empregos.
Um dos principais quadros do partido que venceu as eleições, Aluizio Mercadante na presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social é visto como sinal claro de que a instituição assumirá novamente protagonismo na economia brasileira.
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A indicação também significa que o banco retoma o papel de indutor de investimentos estratégicos, sobretudo na indústria, que perdeu mais de 50% de peso no PIB nas últimas três décadas.
O perfil da pauta brasileira de exportações tem incomodado representantes do comércio exterior, já que a venda de manufaturados recuou de 59% para 28% nos últimos 20 anos. O déficit de produtos industrializados disparou, passando de US$ 86 bilhões em 2019 para US$ 125 bilhões neste ano, segundo projeções da Associação Brasileira do Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Com Mercadante, BNDES fortalece exportações e empregos, diz setor
“Este déficit comercial de manufaturados é déficit de país subdesenvolvido, não é déficit de país em desenvolvimento”, afirma o presidente da AEB a esta reportagem, José Augusto Castro.
Castro faz questão de defender as exportações de commodities, mas alerta que o Brasil não pode ser exportador apenas de produtos básicos. O Brasil é superavitário na balança comercial porque é dos maiores exportadores mundiais de carne, soja, minério de ferro e outros insumos básicos.
Uma das consequências da desindustrialização é a perda de postos de trabalho qualificados, pois trata-se do setor que paga os melhores salários.
“Temos que ter condições de participar do mercado. Não pedimos para criar facilidades, mas sim desfazer as dificuldades”.
Para o representante dos exportadores, falta competitividade, e a taxa de câmbio não ajuda. Ele defende a reforma tributária, uma das prioridades declaradas pelo futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Prestígio para o banco
Para o presidente da associação dos funcionários do BNDES, Arthur Koblitz, o nome de Mercadante para o banco é um sinal importante para a instituição e para a retomada da industrialização e dos investimentos em infraestrutura.
“Como representante dos funcionários do BNDES, vejo em primeiro lugar como muito positivo o fato de estar sendo nomeado para o BNDES um dos principais quadros do partido que agora governa o País, afirmou Koblitz à Agência Nossa. “É sinal de prestígio do banco, sinal de que o banco terá um papel importante para o governo”.
Koblitz lembra que o nível de desembolsos do BNDES em relação ao PIB recuou ao patamar de 1995 durante a gestão do governo atual. E elencou sugestões para que o banco retome patamares de desembolsos maiores e volte a estimular investimentos.
Proposição ultrapassada
Na mesma linha, o economista Luiz Carlos Delorme Prado, professor do Instituto de Economia da UFRJ, afirma que a indicação de Mercadante indica a importância que Lula está dando para a recuperação do banco. “Seu principal papel, com sua longa carreira política e proximidade do presidente, será (suponho) o de exercer a liderança necessária para um projeto de reindustrialização do país”.
“A proposição de que vivemos em um mundo globalizado e não precisamos de um projeto nacional, é uma ideia da década de 1990 que está completamente desmoralizada”, diz professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, lembrando que a recém aprovada IRA (Inflation Reduction Act) Law, subsidia e protege amplamente a produção industrial nos EUA.
Campeãs nacionais
Já o economista Ruy Santa Cruz, da Universidade Federal Fluminense (UFF), é crítico da política industrial como maneira de estimular investimentos e desenvolver setores.
“O meu ponto é que no Brasil sempre que falamos em política industrial acaba-se redundando em proteção excessiva para setores escolhidos a dedo pelo burocrata. Assim não funciona. O BNDES não serve para isso, serve para financiar investimentos de onde vier, do setor que vier”.
Ele disse que no período de ditadura, quando o Brasil foi governado por militares, o governo estimulou o surgimento da indústria petroquímica financiando amigos. “Não é política industrial, mas política patrimonial”. E lembrou da época em que o BNDES fez financiamento voltado às chamadas “campeãs nacionais”, um termo dado a grandes empresas brasileiras que tomaram empréstimos bilionários robustos, como a operadora Oi, frigoríficos como o JBS, além de construtoras e empresas de outros ramos.
Reportagem atualizada em 14 de dezembro corrigindo o nome da AEB