A Petrobras abandonou a política de preços que acompanhava as cotações internacionais e na sequência reduziu os valores dos combustíveis, mas ainda assim não desagradou o mercado. 

Pelo contrário. As ações da companhia com direito a voto subiram 2,2% nesta terça, após anúncio de critérios que levam também em conta referências nas diferentes regiões do Brasil. Os papéis preferenciais subiram 2,4%.

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O temor do mercado era que a Petrobras considerasse exclusivamente seus custos de produção, deixando  completamente de lado os valores de mercado praticados por agentes privados. Investidores receberam bem a notícia porque a percepção é de que o anúncio foi bem menos radical do que o esperado.

“Para os investidores que esperavam que essa nova gestão cortasse os preços de forma brusca e abrupta, essa nova estratégia comercial parece sugerir o contrário. Os preços no Brasil podem cair ligeiramente abaixo da paridade do Golfo dos EUA? Sim. Isso seria desastroso para a empresa? Não. Ao mesmo tempo, se por algum motivo (digamos outra guerra) os preços do petróleo explodirem, acreditamos que sobrará dinheiro na mesa. Isso será desastroso para a empresa? Não. A Petrobras é exportadora líquida de petróleo”, avalia o Bradesco BBI.

Na prática, a estatal vai considerar duas referências: os preços internacionais e os preços domésticos, inclusive seus custos de produção. Nas palavras da petroleira, o anúncio “encerra a subordinação obrigatória ao preço de paridade de importação”, mantendo o que a companhia chama de “alinhamento aos preços competitivos por polo de venda”.

A Petrobras é exportadora líquida de petróleo. Já as importações de diesel no Brasil representam cerca de 25% do consumo de diesel. Na gasolina, a parcela importada é bem menor. Críticos à paridade de preços de importação questionavam por que adotar esse critério se a produção nacional de combustíveis representa uma fatia bem maior que a parcela importada.

Promessa de campanha

“O governo Lula abrasileirando o preço dos combustíveis, conforme promessa de campanha. Com a nova política, o Brasil terá gás de cozinha, gasolina e diesel mais baratos, pois os custos nacionais de produção, em reais, entrarão na composição dos preços”, disse o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar. Segundo ele, com a nova política, o brasileiro deixa de pagar pelos combustíveis como se fossem importados, pois a Petrobrás, agora, não considera, apenas, a cotação do petróleo no mercado internacional e do dólar, e nem os custos de importação. 

A nova estratégia comercial de preços dos combustíveis substitui o mecanismo de preço de paridade de importação (PPI), implementado em 2016 por Michel Temer e mantido por Jair Bolsonaro.

“Nosso modelo vai considerar a participação da Petrobras e o preço competitivo em cada mercado e região, a otimização dos nossos ativos de refino e a rentabilidade de maneira sustentável”, declarou o diretor de Logística, Comercialização e Mercados da Petrobras, Claudio Schlosser.

Jean Paul Prates: “Vamos continuar seguindo as referências de mercado, sem abdicar das vantagens competitivas de ser uma empresa com grande capacidade de produção”. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Durante a vigência do PPI, de outubro de 2016 até hoje, o preço do botijão de gás de cozinha de 13 quilos (GLP), na refinaria encareceu 223,8%, levando a população a voltar a consumir lenha. Enquanto isso, o barril do petróleo (em R$) subiu 61,9% no período e a inflação medida pelo IPCA/IBGE acumulou 36,6%.

Já a gasolina variou 112,7%, e o diesel, 121,5%, segundo cálculos do Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base em dados da Petrobras.

A Petrobras anunciou logo em seguida redução nos valores da gasolina, de R$ 3,18 para R$ 2,78 por litro e do diesel,  R$ 3,46 para R$ 3,02 por litro. A diminuição ocorrerá nas refinarias a partir desta quarta-feira. Os produtos estavam mais caros no Brasil em relação aos preços internacionais. O GLP também ficará mais barato, com corte de R$ 0,69 por quilo o valor do botijão.

“Com essa estratégia comercial, a Petrobras vai ser mais eficiente e competitiva, atuando com mais flexibilidade para disputar mercados com seus concorrentes. Vamos continuar seguindo as referências de mercado, sem abdicar das vantagens competitivas de ser uma empresa com grande capacidade de produção e estrutura de escoamento e transporte em todo o país”, destaca o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.

Menos transparente, mas respaldada

No entanto, analistas avaliam que a nova política será mais subjetiva e que o verdadeiro teste ocorrerá em cenário de alta do petróleo e desvalorização cambial. 

O diretor de Alocação e Distribuição da InvestSmart XP, André Meirelles, afirma que o anúncio mostra afastamento de uma métrica clara e transparente, mas ressalta que a empresa está respaldada pelo seu Estatuto Social e pelas diretrizes do Conselho de Administração, que não sofreram alteração. 

“O grande teste para essa nova política de preços ocorrerá quando tivermos uma alta na cotação do petróleo no mercado internacional combinada com uma desvalorização do Real frente ao dólar, o que deveria provocar uma alta no preço desses derivados no mercado interno. Aí sim, poderíamos dizer com tranquilidade que a garantia do retorno dos investimentos da Petrobras estará amparada pela nova metodologia de preços”.

Os reajustes continuarão sendo feitos sem periodicidade definida, segurando a volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio.