O secretário-geral da ONU abriu a COP27 sugerindo que governos aumentem a carga tributária das petroleiras, num discurso considerado duríssimo por especialistas em energia.
Mas no fim das contas a Conferência Climática da ONU em Sharm El-Sheikh abrandou o tom na condução de bases para a transição energética, abrindo caminho legítimo para a continuidade do uso de gás natural.
O texto final da conferência no Egito substituiu a expressão “importância de melhorar a participação das energias renováveis” por “melhorar o mix de energias limpas, incluindo energias renováveis e de baixa emissão”. Gás natural é um recurso de baixa emissão, que polui muito menos que petróleo, mas ainda é energia suja.
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“De forma geral, o resultado geral da COP27 pode ser considerado decepcionante. O texto final não demonstra a ambição necessária para alcançarmos a meta de 1,5C estabelecida pelo Acordo de Paris e o chamado plano de implementação é fraco e incipiente. Nunca estiveram tão claros o greenwashing de países e empresas e o desalinhamento entre ciência e política como nesta COP”, analisa Maurício Voivodic, diretor geral do WWF-Brasil”.
Por outro lado, a COP27 avançou bastante na agenda social, ao criar um fundo para ressarcir países em desenvolvimento afetados por desastres das mudanças climáticas.
Segundo o Observatório do Clima, pressões de último minuto de potências petroleiras como a Arábia Saudita e a Rússia fizeram com que a menção de Glasgow a uma redução gradativa (“phase down”, no jargão dos diplomatas, que já era insuficiente) dos combustíveis fósseis fosse eliminada do texto.
O Climainfo também avalia que “a escala de influência da indústria de combustíveis fósseis e apoiadores estatais esteve em plena exibição”.
“A nova linguagem, incluindo a energia de ´baixas emissões´ junto com as fontes renováveis de energia do futuro, é uma lacuna significativa, pois o termo indefinido poderia ser usado para justificar o desenvolvimento de novos combustíveis fósseis contra a clara orientação do IPCC e da AIE”.
De acordo com a entidade, 636 lobistas de combustíveis fósseis e CEOs da BP, Shell, Total e Occidental que andaram pelos corredores “estiveram aqui por uma razão: a transição energética tem um impulso imparável e representa uma clara ameaça aos seus negócios.
O principal documento político da COP, que os europeus esperavam que fosse um “Glasgow Plus”, ou seja, um avanço em relação à COP26, acabou virando o que alguns negociadores chamaram de “Glasgow Minus”.
Sharm El-Sheikh deixou a desejar em dar continuidade ao chamado de Glasgow para que os países acelerem esforços para reduzir o uso de carvão, na contramão do que evidências científicas têm alertado para a necessidade de se eliminar a queima de combustíveis fósseis. O texto da decisão incluiu apenas a expressão “eliminar subsídios ineficientes” para combustíveis fósseis.
Outro lado
Por outro lado, o mundo vive uma encruzilhada provocada pela guerra da Ucrânia, que reduziu a oferta do gás produzido pela Rússia, forçando outras petroleiras europeias e aumentar a produção do combustível, na melhor das hipóteses. A produção de carvão, altamente poluente, voltou à tona, diante de indústrias, inclusive de alimentos, sob ameaça de parar, sem energia.
Petroleiras já vêm alertando para a necessidade de se considerar a guerra antes de se falar na redução do uso de combustíveis fósseis. A invasão da Ucrânia pela Rússia aumentou a insegurança energética, com maior risco de escassez de energia. O inverno europeu será teste para a segurança energética da Europa.
O diretor executivo de relacionamento institucional e de sustentabilidade da Petrobras Rafael Chaves, afirmou durante painel na conferência que é mandatório reduzir emissões para garantir a sustentabilidade do planeta. Mas lembrou que é necessário garantir energia limpa, barata e com segurança, que não falte o produto.
“É preciso entender que a descarbonização é gradual, vamos conviver muitos anos com óleo e gás na matriz energética do mundo e é bom que isso aconteça”, disse o executivo.