Nesta segunda-feira (11), a reserva biológica Rebio de Poço das Antas, primeira do Brasil, celebrou 50 anos de proteção integral de 5 mil hectares de Mata Atlântica no estado do Rio de Janeiro. Administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a região é o habitat do mico-leão-dourado, primata endêmico ameaçado de extinção e símbolo da luta pela preservação da reserva e do bioma, além de proteger outras sete espécies vulneráveis à extinção.
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Reservas biológicas são categorias de unidade de conservação criadas para a preservação integral de um conjunto de seres vivos e demais atributos naturais existentes em seus limites, sem interferência humana direta ou modificações ambientais, com exceção de medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados e de ações de manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos naturais.
Localizada a 50 quilômetros do litoral, nos municípios de Silva Jardim e Casimiro de Abreu, a Poço das Antas desempenha um papel fundamental por ser uma área de conservação da Mata Atlântica, bioma listado entre os 25 principais hotspots de biodiversidade do planeta, ou sejam regiões reconhecidas pela grande variedade biológica, sobretudo de espécies endêmicas. A reserva também integra o Núcleo de Gestão Integrada Mico-Leão-Dourado (NGI-ICMBio), composto ainda pela Reserva Biológica União e pela Área de Proteção Ambiental do Rio São João/Mico-Leão-Dourado. Juntas, as unidades são responsáveis pela preservação de um território de cerca de 175 mil hectares.
A reserva é a maior área remanescente da Mata Atlântica Litorânea de Baixada do Estado do Rio de Janeiro e registra 365 espécies da flora da Mata Atlântica, distribuídas em 71 famílias, incluindo 12 espécies de pteridófitas classificadas na categoria vulnerável e quatro em perigo de extinção. Cerca da metade da área da reserva está coberta por Floresta de Baixada, sendo aproximadamente 80% em bom estado de conservação.
A chefe da NGI Mico-Leão-Dourado, Gisela Livino, reforça o papel estratégico da Rebio de Poço das Antas na proteção do ecossistema florestal da Mata Atlântica costeira: cerca de 200 hectares de floresta foram restaurados e aproximadamente 100 hectares sofreram regeneração natural. Atualmente, mais de 80% da área protegida é de cobertura de Mata Atlântica.
A população do mico-leão-dourado na região cresceu de 200 indivíduos, na década de 1970, para cerca de 4,8 mil exemplares, segundo o censo efetuado em 2023 pela Associação Mico-leão-dourado (AMLD). “Os protocolos deste manejo populacional de tanto sucesso foram desenvolvidos na Rebio de Poço das Antas, na década de 80. Inúmeras pesquisas científicas sobre flora e fauna são realizadas na unidade e três espécies vegetais desconhecidas já foram encontradas e descritas na reserva”, destaca Livino.
Quanto à sua biodiversidade, na Rebio de Poço das Antas, três conjuntos de aves (avifauna) podem ser registradas: florestais, aquáticas e de áreas abertas, num total de 275 espécies identificadas, das quais 17 encontram-se ameaçadas de extinção. Já foram observadas 18 espécies de médio e grande porte de mamíferos, sete sendo ameaças de extinção, e outras 16 de pequeno porte. A reserva reúne 42 espécies de anfíbios e 14 de répteis.
Ainda, abriga 265 espécies de lepidópteros, com predominância de borboletas-estaladeiras. Exemplares da maior mariposa do mundo, a imperador (Thysania agrippina), também podem ser avistados na unidade de conservação — a espécie chegar a medir 30 centímetros de envergadura. Outro espécime de inseto presente no parque é a borboleta-da-restinga (Parides ascanius), que figura na lista de espécies ameaças de extinção. A área é uma das poucas regiões no país com ocorrência da borboleta.
A comemoração dos 50 anos da Rebio de Poço das Antas começou no domingo (10), com um passeio de bicicleta promovido pela Associação Ciclística de Casimiro de Abreu (ACCA). Na segunda, alunos da Escola Municipal de Aldeia Velha percorreram a trilha interpretativa Boi Branco. Em seguida, os gestores das três unidades de conservação da NGI Mico-Leão-Dourado participaram da primeira reunião do Conselho Integrado, composto por representantes de 42 instituições, e criado em 27 de fevereiro pelo ICMBio. Depois, foi realizada a cerimônia de celebração do aniversário, marcada pela fala de representantes do instituto, do poder público e de parceiros da reserva.