A indústria brasileira já patinava antes de o surto de coronavírus impor o isolamento social e a paralisação de várias atividades econômicas. Em fevereiro e janeiro houve redução de 0,6% na produção industrial, com resultados negativos em 14 dos 26 ramos e mais da metade dos produtos pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. No ano passado, a retração foi de 1,1% no setor.

O surto de coronavírus agravou muito a situação do setor, derrubando a indústria em 27,2% em abril, o primeiro mês cheio de isolamento social. Oitenta por cento dos produtos pesquisados sofreram queda na produção, bem como 22 dos 26 ramos industriais.

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O maior tombo abateu a indústria automotiva. As fábricas de veículos automotores, reboques e carrocerias cortou a produção em 92,1%.

As montadoras cortaram a produção de automóveis quase toda, em 99%, de acordo com a Anfavea, entidade que reúne as montadoras.

Com quase todas as fábricas paradas ao longo do mês, apenas 1.847 veículos foram produzidos, entre automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores.

O segmento de caminhões recuou 53,5% no mesmo período, e o de máquinas para o setor caiu 23,9%.

O único indicador positivo é o nível de empregos diretos na indústria, que se mantem.

Para Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, é preciso em primeiro lugar proteger a saúde dos funcionários, e ao mesmo tempo encontrar meios para que o Brasil não entre numa recessão tão grave que possa levar o país a um colapso.

“Isso exige um engajamento coordenado de toda a sociedade e também do Estado brasileiro, com foco absoluto na saúde e na economia. Não é hora de ruídos políticos que só desviam as atenções do que realmente interessa à população brasileira no momento de uma crise sem precedentes”.

BEBIDAS, MÁQUINAS E ROUPAS

A produção de bebidas também sofreu um dos maiores baques, cortando mais da metade da produção (50,7%), segundo o IBGE.

A produção de máquinas e equipamentos, que servem de termômetro para investimentos, foi reduzida em 41,3% em abril, comparada ao volume do mesmo mês do ano passado.

Fornecedores de roupas e calçados também foram muito afetados. O IBGE registrou queda de 65% na fabricação de artigos de vestuário e calçados e de 70% em artigos de couro, que incluem insumos para calçados.

Os bens de consumo duráveis (-85,0%) e bens de capital (-52,5%) assinalaram, em abril de 2020, os recuos mais acentuados.

SEM QUARENTENA
Por outro lado, a fabricação de produtos alimentícios aumentou na pandemia, em cerca de 6,0%. A produção respondeu ao aumento da procura por supermercados, quando parte da população sentiu medo de desabastecimento.

A indústria também refletiu o aumento da demanda por produtos e hábitos de higiene fundamentais no combate ao coronavírus. O ramos de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal cresceu 4,9%. Papel e produtos de papel cresceram 1,0%.

A indústria extrativa, pelo resultado positivo, não deve ter parado para fazer isolamento, com alta de 10,1%, na contramão do ritmo imposto a atividades não essenciais.