Agricultores ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) conseguiram captar R$ 17,5 milhões no mercado financeiro para a agricultura familiar. É a maior operação já realizada para pequenos agricultores: contou com 1518 investidores e beneficiará diretamente 13 mil famílias de trabalhadores rurais congregados em sete cooperativas.
O presidente da Gaia Impacto Securitizadora, responsável pela operação, começa na próxima semana a planejar a próxima captação.
“Esta operação traz um novo paradigma para o mercado financeiro e para a agricultura familiar. Vamos trabalhar bastante para que isso seja só a semente do que a gente quer construir”, afirmou João Pacífico à Agência Nossa.
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A agricultura familiar é responsável pela maior parcela da cesta básica dos brasileiros, respondendo, por exemplo, por mais da metade da oferta de arroz no País. Também vem dos pequenos agricultores a produção de alimentos orgânicos, sem uso de agrotóxicos.
“Esta operação foi importante porque permitiu às pessoas (físicas, não apenas investidores profissionais) investirem, democratizou o investimento. Sem ter nenhum banco envolvido e sem nada de marketing, conseguimos um mega sucesso”, comemorou Pacífico.
A captação abraçou pequenos investidores, com possibilidade de aplicações mínimas de apenas R$ 100.
O grupo de cooperativas apresentou à Comissão de Valores Mobiliários prospecto preliminar para captar os R$ 17,5 milhões por meio da emissão de certificados de recebíveis do agronegócio (CRA), instrumento que se limitava até então a grandes empresas do setor.
Distribuídos pela corretora Terra Investimentos, os papéis vencem em 2026 e contarão com juros de 5,5%.
A Gaia realizou no ano passado uma operação parecida com o MST, só que bem menor, e outra também pequena para agricultura familiar, no sul da Bahia.
“A maior operação das cooperativas de assentados ligados ao MST no mercado de capitais chegou ao fim com resultados exitosos. A emissão do CRA por sete cooperativas alcançou a meta de captação (…) para financiar a produção nas áreas da reforma agrária”, citou em nota o projeto Financiamento Popular (Finapop), do MST.
Com os recursos, as cooperativas planejam investir na ampliação e modernização da estrutura para a produção de leite, milho, arroz, soja, açúcar mascavo e suco de uva.
“Essas ações fazem parte do programa Finapop, criado em 2020 inspirado no banco Triodos com sede na Holanda, como uma alternativa de crédito para financiar a agricultura familiar em um quadro de dificuldades de ampliar os investimentos pela burocracia, juros elevados e desinteresse do mercado”.
Conheça as beneficiárias
A Cooperativa Regional de Comercialização do Extremo Oeste (COOPEROESTE) nasceu composta exclusivamente por famílias assentadas do extremo oeste do estado de Santa Catarina, onde há 14 assentamentos com 550 famílias. Hoje possui 1.257 associados e 1.485 produtores que entregam leite para a cooperativa. A COOPEROESTE possui Serviço de Inspeção Federal (SIF), é detentora da marca “Amanhecer” e possui em cessão de uso a marca “Terra Viva”.
Com sede no município de Eldorado do Sul, na região Metropolitana de Porto Alegre, a Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre Ltda. (COOTAP) conta com 1.462 famílias assentadas. Em suas “cadeias” produtivas, busca fornecer alimentos livres de agrotóxicos.
A Cooperativa de Comercialização da Reforma Agrária Avante Ltda (Coana) é hoje uma das maiores cooperativas da reforma agrária do estado do Paraná e é dona da marca “Campo Vivo”. A Cooperativa de Produção Agropecuária dos Assentados e Agricultores Familiares da Região Noroeste do Estado de São Paulo (COAPAR) conta com a participação de mais de 900 famílias e possui o Selo da Agricultura Familiar, além de já ter dado início ao pedido de Certificado de Inspeção Federal (SIF).
Criada para produzir sementes para agricultores familiares, a Cooperativa Agroindustrial Ceres (Coopaceres) tem como principal diferencial a utilização de sementes não transgênicas, as quais são certificadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e pela Fundação Prosementes.
A Cooperativa Agroindustrial de Produção e Comercialização Conquista (Copacon) possui como principal diferencial a produção de derivados de milho livres de transgênicos e pretende iniciar a produção de produtos orgânicos. Além disso, é detentora da marca “Campo Vivo”.
Já a Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória Ltda (COPAVI) comercializa produtos orgânicos, certificados pela Rede Ecovida de Agroecologia, e possui uma linha de derivados de cana com certificação para a exportação para União Europeia fornecida pela Associação de Certificação Instituto Biodinâmico.
A Agência Nossa não conseguiu informações sobre uma das cooperativas envolvidas na operação.