A ofensiva do garimpo na Amazônia, especificamente em território Yanomami, fez disparar o número de mortes por crimes no campo.
Relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) apurou aumento de 75% nos assassinatos, 1.000% nas mortes em consequência de conflitos, dois massacres e aumento de trabalho escravo no campo no ano passado.
A publicação, que será lançada na próxima segunda-feira (18), reúne dados sobre os conflitos e violências sofridas pelos trabalhadores e trabalhadoras do campo brasileiro.
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Das 109 mortes registradas em 2021, contra 09 registradas em 2020, 101 ocorreram no território Yanomami, em Roraima, em decorrência da ação de garimpeiros. Além disso, o número de resgatados de trabalho escravo mais que dobrou no campo no último ano.
Após dois anos de pandemia, o lançamento volta a ser feito de forma presencial na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília.
O evento terá a participação do presidente da CPT, Dom José Ionilton; de Andréia Silvério, da coordenação executiva nacional da CPT; Guilherme Delgado, da Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA); Dom Joel Amado, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e de Geovane da Silva Santos, pai do garoto Jonatas, morto a tiros em 10 de fevereiro na Zona da Mata de Pernambuco, além de Jaque Kuñangue Aty, indígena Guarani-Kaiowá, do Mato Grosso do Sul.
O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) divulgou recentemente que a Terra Indígena Yanomami, na fronteira entre Roraima e Amazonas, foi a mais pressionada por atividades ilegais, registrando 72 ocorrências de desmatamento e um total de 4,4 km² de área desmatada, o equivalente a 440 campos de futebol e a cerca de 4,5% de todo o território indígena.
“A TI Yanomami é a mais pressionada entre todas as áreas protegidas do Brasil. E além dessa situação do garimpo e da grilagem, temos visto esse avanço da Covid-19 dentro dessa Terra Indígena, o que gera uma preocupação pela vulnerabilidade dessa população também, porque onde está ocorrendo mais desmatamento significa que está havendo maior contato externo com essas populações e, consequentemente, uma maior transmissão da doença”, alertou na ocasião um dos autores do estudo e pesquisador do Imazon, Antônio Fonseca.
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Em outro estudo, as organizações Hutukara e Seedume, com apoio técnico do Instituto Socioambiental (ISA), denunciaram que a exploração de ouro nessas áreas é feita por empreendimentos de médio porte, dado o maquinário utilizado e a logística complexa envolvida, com a necessidade de um investimento inicial estimado em R$ 150 mil. É um tipo de mineração que exige menos mão de obra, mas, ainda assim, estariam presentes na TIY mais de 20 mil garimpeiros.
O documento destacou o avanço para áreas cada vez mais próximas das aldeias, o que traz a ameaça de uma escalada de violência e de problemas para a saúde dos indígenas, além do impacto ambiental. Para antropólogos, o cenário de recrudescimento do garimpo se compara ao dos anos 1980 e 1990, antes da demarcação da TIY.