A reportagem da Agência Nossa procurou todos os estados citados como potenciais alvos de preocupação por níveis de agrotóxicos na água. O resultado é uma série de 15 reportagens com mais de 40 fontes, entre secretarias de saúde, de meio ambiente, laboratórios, órgãos federais, representantes de sistemas de saneamento, pesquisadores, organizações da sociedade civil e voluntários engajados com a causa ambiental.
“Todas as regiões onde você tem uma agricultura intensiva, que faz uso excessivo de insumos sintéticos, são impactadas por esses produtos. Posso citar como exemplo São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Bahia, estados que eu manteria no radar, pois o panorama permanece o mesmo. aponta o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Robson Barizon, autor de um amplo estudo que mapeou potenciais áreas afetadas em anos anteriores.
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A fronteira agrícola de Matopiba, formada pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia também são alvos de preocupação dos pesquisadores. “As novas fronteiras agrícolas no país, como a Matopiba, merecem ser incluídas neste cenário de preocupação”, completa.
A seguir a nossa apuração com resumo por estado e o respectivo link dos que responderam a nossos questionamentos.
São Paulo
A Cetesb, que monitora níveis de agrotóxicos nas águas superficiais de São Paulo, revelou à Agência Nossa que encontrou concentrações elevadas de quatro substâncias que não constam da lista obrigatória de princípios ativos monitorados no Brasil. As análises detectaram quantidades que extrapolam limites definidos pelos Estados Unidos.
“No caso de não existirem padrões nacionais para agrotóxicos, usamos referências internacionais, a exemplo dos valores ecotoxicológicos da Agência de Proteção Ambiental dos EUA”, afirmou o afirmou o gerente da Divisão de Qualidade das Águas e do Solo da Cetesb, Fábio Moreno.
Segundo ele, o inseticida chlorpyrifós e o fungicida trichlorfon extrapolaram os valores ecotoxicológicos da EPA em 2019.
Estudos associam elevadas concentrações de clorpirifós a doenças autoimunes e transtornos neurológicos. Doses altas de trichlorfon pode podem causar câncer e má formação fetal, segundo relatos na comunidade científica. Mas como os limites que foram excedidos se referem a impactos ao ecossistema, com amostras de água bruta e ainda não tratada, não necessariamente as concentrações poderão provocar males à saúde humana.
“A água que é distribuída à população é tratada, removendo grande parte dos contaminantes”, pondera o pesquisador.
Em 2018 e 2019, os agrotóxicos encontrados nas águas superficiais que extrapolaram os limites da EPA no monitoramento realizado foram o imidacloprido (inseticida) e o fipronil (inseticida). Para saber mais sobre o monitoramento das águas de São Paulo, leia a entrevista com o pesquisador da Cetesb:
São Paulo detecta altos níveis de agrotóxicos fora da lista brasileira de monitoramento
Rio de Janeiro
No Rio, o governo do estado informou à Agência Nossa que proibiu a comercialização de produtos com elevado potencial de contaminação da água. Um deles é o clorpirifós, o mesmo princípio ativo encontrado em concentrações elevadas nas águas de São Paulo pela Cetesb conforme revelou a Agência Nossa. Leia mais na entrevista com o coordenador de controle de agrotóxicos da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento – RJ, Leonardo Vicente.
Minas Gerais
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, por meio da sua assessoria de imprensa, informou à Agência Nossa que de um ano para outro passou de 40 a 80 municípios com monitoramento para o parâmetro agrotóxico. A ampliação se deve à capacidade de análise do laboratório do estado, o Laboratório Central de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais e foi motivada pela predisposição de contaminação por um maior número de municípios. Acesse a reportagem sobre MG na íntegra.
Rio Grande do Sul
Alvo de preocupação por apresentar uso intensivo de agrotóxicos em lavouras, o Rio Grande do Sul apresenta monitoramento de todos os seus municípios, com os melhores índices de acompanhamento do País. “O Programa Vigiagua está implantado em todos os 497 municípios do RS, com pelo menos um profissional do setor saúde no território desenvolvendo as ações básicas, além dos projetos e planos de vigilância”.
Leia mais em: RS monitora agrotóxicos na água de todos os municípios
Santa Catarina
A Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina, informou também que, no último ano, 104 municípios dos 295 existentes no estado foram monitorados. “No ano de 2019 foram 180 municípios monitorados referente aos parâmetros de agrotóxicos e 104 municípios no primeiro semestre/2020, sendo que nessas amostras, não foi detectada presença de resíduos de agrotóxicos em água para consumo humano superior ao Valor Máximo Permitido (VMP) pela legislação vigente em nenhum dos municípios analisados. Clique para conhecer os agrotóxicos analisados em SC
Paraná
A Coordenação de Vigilância Ambiental da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná, por meio do Núcleo de Comunicação Social, apontou que até o momento o estado monitorou 57 municípios, contemplando as 22 Regionais de Saúde do Estado. Esse número representa apenas 14,2% do estado, que tem 399 municípios. “Nenhuma análise detectou resíduos de agrotóxicos em desconformidade com o padrão de potabilidade. No entanto, no ano de 2020 não foi possível realizar o monitoramento de vigilância no mesmo ritmo e os dados estão sendo consolidados.” Leia a matéria na íntegra.
Maranhão
O estado do Maranhão é apontado por publicação do Ministério da Saúde como um dos estados que menos apresentam informações no sistema da pasta sobre qualidade e controle da água, segundo o último boletim com dados relativos a 2019. Uma falha em um equipamento do laboratório de referência vinculado ao ministério pode ter agravado o apagão de informação.
A Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou à Agência Nossa que equipamento utilizado pelo laboratório de referência na realização das análises de agrotóxicos encontrava-se com problemas técnicos, não sendo possível atender às demandas a partir de dezembro de 2019, sem previsão de retorno. O Ministério da Saúde confirmou a interrupção devido sobretudo à pandemia, que afetou também a análise de dados de agrotóxicos de outros estados brasileiros.
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Bahia
A Bahia aumentou de 43 para 53 o total de municípios monitorados, e planeja ampliar o número para 73 neste ano. A expansão é significativa, mas ainda representa menos de um quinto do universo de cidades baianas. “Esclarecendo que, em função de limitação da disponibilidade laboratorial, não é realizado monitoramento nos 417 municípios, mas em municípios definidos por critérios técnicos e epidemiológicos”, explica a sanitarista da Coordenação de Vigilância em Saúde Ambiental/DIVISA da Bahia Tania Cordeiro em resposta por e-mail à Agência Nossa.
Veja a íntegra em Bahia amplia total de cidades com monitoramento de agrotóxicos na água.
Tocantins
A Secretaria da Saúde de Tocantins, por meio da sua diretoria de comunicação, informou que o estado, atualmente, monitora apenas 12 municípios, dos 139, para o parâmetro agrotóxico nas águas. Segundo a secretaria, o número foi reduzido a partir de 2018, quando foi realizada uma revisão do Plano Estadual de Monitoramento de Agrotóxicos na água de consumo humano. A secretaria também comunicou que no ano de 2019 apenas quatro dos municípios prioritários foram monitorados, totalizando 36,36% do total. Só no ano passado a fiscalização conseguiu alcançar 100% do total de cidades prioritárias, com o monitoramento dos 11 municípios selecionados. Leia em Tocantins reduz número de municípios que monitoram agrotóxicos na água.
Piauí
Apenas 27% dos municípios do Piauí possuíam dados de cadastro, controle e vigilância no sistema do Ministério da Saúde, o Siságua, segundo dados de 2019. O estado não respondeu a nossas questionamentos sobre o tema.
Pará (21%) e Amapá (6%) também estão entre os estados com as menores parcelas de cidades que realizam monitoramento na água estabelecido pelo MS.
Secretaria de saúde alerta para uso indiscriminado de agrotóxicos em Goiás
A Secretaria de Saúde de Goiás afirmou à Agência Nossa que o setor agropecuário no estado faz uso indiscriminado de agrotóxicos. Do total de 1.737 casos de intoxicação por pesticidas registrados em Goiás de 2017 a 2020, 787 (45%) foram relatados em circunstância de tentativa de suicídio; 513 (30%) no âmbito de acidente ocupacional; 403 (23%) em casos de acidente individual; e 34 (2%) por outras circunstâncias.
“Os pesticidas são utilizados em larga escala pelo setor agropecuário e, em decorrência do seu uso indiscriminado, acarretam uma série de agravos. As intoxicações por agrotóxicos representam um dos maiores problemas de saúde pública no Brasil. No Estado de Goiás, cuja economia é predominantemente agrícola, há ocorrência de intoxicações por estes produtos”, relata a secretaria.
A Agência Goiana de Defesa Agropecuária do governo do estado, por sua vez, afirma que os níveis de agrotóxicos estão dentro dos padrões estabelecidos pelas autoridades brasileiras. “Até onde tivemos acesso e de acordo com relatórios da Saneago (empresa de saneamento), as quantidades de princípios ativos encontradas estão dentro dos limites permitidos no País”, afirma o coordenador de fiscalização de agrotóxicos da Agrodefesa, Rodrigo Baiocchi Lousa.
Mato Grosso inicia análise de glifosato neste semestre
Forte produtor agrícola, o Mato Grosso está adequando sua estrutura para ampliar sua capacidade de análise de moléculas de agrotóxicos e passará a monitorar o glifosato neste semestre, informou à Agência Nossa a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema). A substância é um dos pesticidades mais vendidos no mundo e no Brasil. A secretaria de Saúde do estado informou à Agência Nossa que 30 municípios realizaram o monitoramento em 2019 e 20 municípios no ano de 2020 no âmbito dos serviços de vigilância relacionados ao estado e ao ministério da Saúde. Já para as ações de controle realizadas por concessionárias, foram 41 municípios em 2019 e 40 municípios em 2020.
O estado do Mato Grosso do Sul não atendeu a nossos questionamentos, apesar de ser apontado por especialistas como um dos alvos de preocupações com níveis de agrotóxicos na água.