No primeiro ano de volta ao poder, o novo governo Lula dobrou o orçamento para pessoas em situação de rua, retomou políticas assistenciais abandonadas  e relançou o plano para catadores de material reciclável. Mas os últimos anos de sucateamento de políticas públicas, agravados pela pandemia e pela polarização gritam nesta série de reportagens que procura dar visibilidade aos invisíveis. Invisíveis só para os que não querem vê-los.

A partir de dados indicativos do governo federal, a Agência Nossa mapeou locais de maior e menor atendimento à população sem teto no Brasil. Descobrimos e expusemos às autoridades violações de direitos urgentes ao nosso redor. Revelamos que Niterói, a quinta cidade mais rica do País, reduziu a um terço os cuidados com pessoas em situação de rua, em um ambiente político polarizado que penaliza quem faz pelos mais pobres.

Acompanhamos a triste história de seu Altivo, um artista de 74 anos que cansou de ter consultas e procedimentos marcados e remarcados, entre exames que perdiam a validade e médicos que não apareciam. Nada da cirurgia de catarata. A surpreendente queda no total de atendimentos de 2407 para 251 pelos consultórios na rua de Niterói entre 2018 e 2022 afetou em cheio a sua vida.

Entre os atendimentos que não aconteceram, alguns poderiam ter levado seu Altivo a recuperar a visão e sua principal atividade: pintar quadros.

Altivo Santos, 74 anos

Seu Altivo teve consultas e procedimentos desmarcados várias vezes pela Prefeitura de Niterói. Foto: Clara Branquinho/Agência Nossa

Do outro lado da Baía de Guanabara, a capital carioca também não vai nada bem neste quesito. O Rio é a cidade que menos realiza atendimentos em centros de referência para pessoas em situação de rua (Centro Pops), segundo levantamento da Agência Nossa a partir de dados do Ministério dos Direitos Humanos e de informações do Ministério de Desenvolvimento Social, Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).

O cruzamento de dados realizado pela Agência Nossa também traz notícia boa. Belo Horizonte se destaca pela quantidade de unidades de atendimento e Porto Alegre pelo volume total de atendimentos.

“Ter alguém com trajetória nas ruas na equipe que atende às pessoas em situação de rua é muito bom porque você quebra aquele gelo entre equipe e usuário, já que há alguém ali que muitas vezes já tem algum contato ou algum tipo de vínculo com elas”, observa o diretor do Departamento de Proteção Social Especial, do (MDS), Regis Spindola, que atuou na prefeitura da capital mineira antes de assumir o cargo no governo federal. Em entrevista à Agência Nossa, Spindola detalhou algumas políticas públicas abandonadas nos últimos anos que foram retomadas no governo Lula.

Outro levantamento da Agência Nossa, junto a 18 empresas bem colocadas em indicadores e selos ESG, mostra que apenas três delas respondem com ações de apoio, ainda que indiretamente.

Esperamos que este trabalho, tema da terceira edição da nossa newsletter Volver!, ajude mais pessoas, governos e empresas a enxergar essa população tão carente de tudo.

Também participam desta série Francielly Barbosa, Arthur Falcão e Iza Malhard

Após publicarmos a via crucis do artista em situação de rua Altivo José por uma cirurgia de catarata, ele foi operado voluntariamente por um médico que leu a reportagem e sua equipe, todos sensibilizados com a história. Mais detalhes no Instagram da Agência Nossa, no link https://www.instagram.com/p/C66t-vApKZF/?utm_source=ig_web_button_share_sheet&igsh=MzRlODBiNWFlZA==